sexta-feira, 13 de outubro de 2017

Você pergunta, o blog responde: Jwenn? Twouve?


Um leitor perguntou: É possível usar “jwenn” no lugar de “twouve” quando a ideia é “achar” no sentido de “ter uma opinião sobre algo”?

Boa pergunta! Vamos à investigação para achar a resposta. Mas... antes... preciso relembrar algo.

Aqui no blog a maioria das pesquisas já conduzidas até hoje, que resultaram em muitos dos artigos que aqui estão, e muitos outros que estão em processo de investigação, baseiam-se no que chamamos de linguística de corpus. Ué, mas o que é isso?

De maneira simples: um corpus é um banco de textos extenso. Recolhem-se os textos em um determinado idioma e coloca-se esse conjunto de textos em programa de análise de corpus. Dentro desse programa é possível fazer investigações bem precisas, analisando, sobretudo, o contexto em que uma determinada palavra é usada, o que facilita o reconhecimento de padrões específicos no idioma, ou a falta deles. O programa não trabalha sozinho, é claro. Ele é apenas uma ferramenta que auxilia alguém com conhecimento em análises linguísticas.

Recorrendo à análise de corpus para responder à questão de nosso leitor, obtivemos rapidamente a seguinte conclusão: “jwenn” é “achar” no sentido de “encontrar algo físico”, ao passo que “twouve” é usado também no sentido de “achar” quando significa “ter uma opinião sobre algo”. Pronto! Questão respondida! Não... ainda não.

Nosso leitor disse algo que nos intrigou. Ele relatou que alguns haitianos estão usando “jwenn” no lugar de “twouve”. Por quê?! Será que os brasileiros estão influenciando o crioulo dos haitianos?! Responder a essa questão não é a tarefa mais fácil do mundo. Mostrou-se necessário, então, lançar mão de um outro método de investigação.

Esse outro método é típico da gramática gerativa. Ele visa à investigação de fatos linguísticos utilizando a própria intuição do falante. É verdade que linguística de corpus e linguística gerativa são coisas bem distintas, e muitas vezes “não se bicam”. Mas como linguística para mim não é religião, mas, sim, uma ciência, não tenho medo de aproveitar o que há de bom em cada uma das várias teorias. Assim, vamos à verificação de gramaticalidade utilizando a intuição dos falantes! Eba!

Antes de qualquer outra coisa: o que é gramaticalidade? Uma sentença “gramatical” faz parte da gramática da língua. Isso não tem a ver com certo ou errado, esqueçam a gramática tradicional. Nas frases abaixo, defina qual é “gramatical”, e qual é “agramatical”:

(a)              Os livros estão em cima da mesa

(b)             Os livro tá em cima da mesa

(c)              O livros estamos em cima da mesa

Tanto (a) quanto (b) são frases gramaticais da língua portuguesa. Somente (a) é aceita pela norma culta, mas como já disse, esqueça a gramática tradicional. A frase (c) é inaceitável em português, apesar de ser compreensível, ninguém falaria assim. Veja que “agramatical” não quer dizer “incompreensível”.

Para definir o que é gramatical e o que é agramatical no que diz respeito à alternância de “twouve” com “jwenn”, expusemos falantes nativos do crioulo haitiano a uma mesma frase em que se alternavam os usos desses verbos em questão.

A frase foi retirada de um livro em crioulo haitiano1. Nossa frase-modelo foi


Plizyè milyon moun twouve li enteresan pou yo sèvi ak metòd kesyon/repons lan lè y ap pale de Labib


         Lembre-se de que o objetivo era investigar a possibilidade de usar “jwenn” nesse contexto, em lugar de “twouve”. Essa pesquisa foi conduzida com a ajuda de voluntários em São Paulo, Paraná, Rio de Janeiro e no Haiti. Veja os resultados:

LEGENDA
sem marcação
: frase gramatical, aceitável
* (asterisco)
: frase agramatical, inaceitável
? (ponto de interrogação)
: frase duvidosa (alguns aceitam, alguns rejeitam)
*? (asterisco e interrogação)
: frase bastante duvidosa, aceitação baixa

Plizyè milyon moun twouve li enteresan pou yo sèvi ak metòd kesyon/repons lan lè y ap pale de Labib

Plizyè milyon moun twouve sa enteresan pou yo sèvi ak metòd kesyon/repons lan lè y ap pale de Labib     

?Plizyè milyon moun jwenn li enteresan pou yo sèvi ak metòd kesyon/repons lan lè y ap pale de Labib

*?Plizyè milyon moun jwenn sa enteresan pou yo sèvi ak metòd kesyon/repons lan lè y ap pale de Labib              

*Plizyè milyon moun twouve enteresan pou yo sèvi ak metòd kesyon/repons lan lè y ap pale de Labib              

*Plizyè milyon moun jwenn enteresan pou yo sèvi ak metòd kesyon/repons lan lè y ap pale de Labib

         Depois de analisar os resultados, chegamos às seguintes conclusões:

     Tanto o verbo “twouve” quanto o verbo “jwenn” pedem depois de si um pronome entre o próprio verbo e o adjetivo seguinte. Isso porque o pronome é o objeto do verbo, é imprescindível para a frase. O pronome pode ser também substituído por um substantivo, como “Mwen twouve liv sa a enteresan” (acho este livro interessante), ou “mwen twouve l enteresan” (eu o acho interessante). Mas nunca apenas “twouve enteresan”, “jwenn enteresan”. Outra coisa: esse objeto pode ser preenchido também pelo “sa”, se você não quiser usar o “li”. As frases com “jwenn”, no entanto, não foram rejeitadas de cara pelos falantes, é verdade. Mas com certeza tendem à agramaticalidade. Acredito que é por isso que não achamos um exemplo sequer de “jwenn” no lugar de “twouve” na língua escrita.

         Assim, é possível dizer que: usar “jwenn” no lugar de “twouve” é possível, mas é questionável, alguns falantes não se incomodam, outros vão torcer o nariz. Você quer mesmo que torçam o nariz para você? :P

         Até mais.

P.S.: Aproveito aqui para agradecer aos que colaboraram como pesquisadores ao entrevistar os haitianos.

1O livro mencionado é Ki sa Labib anseye toutbonvre ? publicado pelas Testemunhas de Jeová.

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quarta-feira, 4 de outubro de 2017

Preposições: POU

                Nesta nova série, Preposições, começaremos por uma bastante usada — pou.
                É muito comum ouvir que “pou” corresponde a “para” e nada mais. Simples assim. Mas... será que é só isso mesmo?
                Há pelo menos quatro preposições equivalentes a “pou” em português. São elas: a, para, por, de. Vejamos algumas frases-exemplo em que “pou” é usado com cada um desses siginificados.
A, PARA
                A preposição “a” e “para” estão bastante relacionadas e, modernamente, empregamos as duas sem distinção na maioria dos casos no português. Essas preposições têm um sentido ablativo, ou seja, de afastamento em relação ao sujeito da oração. Então o sujeito é o ponto de partida e o objeto se afasta dele, que vai em direção a outra pessoa (ou lugar).
                Um presente para você
                Yon kado pou ou
                O “pou ou” é, também, muitas vezes equivalente ao que pela tradição gramatical brasileira se chama “pronome possessivo”, que mais é um adjetivo possessivo. Portanto, numa frase como “Este livro pertence a”, “Este livro é de(o, a)” traduziríamos “Liv sa a se pou Bruno”, por exemplo. Literalmente seria “Este livro é para o Bruno”, ou seja, é dele.
                O “pou” pode ter também sentido adlativo, ou seja, em direção ao sujeito. Diferente dos exemplos que vimos agora, em que há uma sensação de afastamento em direção contrária ao sujeito, o “pou” pode ser usado também na seguinte ocasião:
                Comprei uma maçã para eu comê-la
                M te achte yon pòm pou m manje l
POR
                Às vezes “pou” terá o sentido de “por”. E isso é algo a que devemos prestar muitíssima atenção. Alguns verbos do crioulo estão cheiíssimos de armadilhas seriíssimas! rsrs.
                O que acontece é que muitos verbos têm transitividade diferente da dos verbos portugueses. O que é essa tal “transitividade”? De maneira simples: é o fato de o verbo pedir ou não complemento. Um verbo como “miar” (do gato), é intransitivo. Dizemos “O gato miou” e pronto, não falta nada na frase. Mas um verbo como “gostar” pede um complemento, afinal, quem “gosta”, “gosta de” alguma coisa! “Eu gosto de chocolate.” Veja que interessante! O verbo “gostar” além de exigir que se diga a coisa que você gosta, pede também a preposição “de”. Não se diz apenas “Eu gosto chocolate”.
                Vamos ao verbo “orar”. Em português, nós “oramos a Deus”, “para Deus”. A preposição é essencial. Mas em crioulo se diz apenas “Orar Deus”. O verbo priye (orar) não pede preposição!
                Eu oro a Deus todos os dias
                Mwen priye Bondye chak jou
                Mas, e se eu colocar o “pou”?! “Mwen priye pou Bondye”? Isso significa “Eu oro por Deus”. Será que Deus precisa que alguém ore a favor dele?! Então não use “pou”.
                Não é tão fácil saber e prever as diferenças entre o crioulo e o português nesses aspectos, mas fique atento ao ler em crioulo e seja observador na hora de comparar com o português. Isso o ajudará muito!
DE
                Por último, com alguns verbos, e, infelizmente, não é possível dar uma lista de todos, o “pou” significará “de”. Nesse caso, ele só terá sentido ablativo, ou seja, em direção contrária à do sujeito. Um exemplo é o uso de “pou” com o verbo “correr”, que é “kouri” em crioulo.
                Ao juntarmos esse verbo e essa preposição “kouri pou”, não temos o sentido de “correr para (em direção a)” mas sim o sentido de “correr de (distanciar-se de)” alguma coisa.
                Reflitam bastante nesses exemplos e pratiquem! Logo haverá uma atividade aqui para que pratiquem o uso do “pou”.
Babay!

sexta-feira, 8 de setembro de 2017

Você pergunta, o blog responde: "di ki sa..." existe?

Pergunta: É possível falar “Di ki sa w renmen?”? Vi isso na internet, mas não tenho certeza sobre ser correto esse uso. Podem escrever sobre isso? Obrigado.

Resposta:

Caro leitor, a frase como você a escreveu não é possível em crioulo. Não sei qual era o contexto, mas dá para afirmar que essa frase não é aceitável, a menos que seja uma afirmação. Se a intenção foi dizer “diga o que você gosta”, então ficará “di ki sa w renmen”. Mas se se refere à pergunta “do que você gosta?”, há apenas a opção “ki sa w renmen?”.

                Já comentei aqui no blog que línguas latinas não terminam frases em preposição. O crioulo tampouco permite isso. Assim, quando o verbo exige preposição, ela deve ser deslocada para o começo da frase como acontece em português. Veja:

(1-A) Eu gosto de queijo – Do que você gosta?

(1-B) Vou com a minha mãe para a festa – Com quem você vai?

                Em inglês — uma língua germânica, anglo-saxã — é possível terminar frase com preposição. Deste modo, uma frase como 1-B ficará:

(1-C) Who will you go with? (Quem você vai com?)

                A frase 1-C é impossível em português, o deslocamento de “com” é obrigatório. Do mesmo modo, em crioulo deve-se deslocar a preposição para o começo da frase, ficando:

(1-D) Avèk kiyès ou prale?

                Em crioulo, o verbo “renmen” (gostar) não exige preposição. Não se diz “gostar de alguma coisa”, mas apenas “gostar alguma coisa”. Portanto, não há preposição para ser deslocada, ficando:

(1-E) Ki sa w renmen? (Visto que o português exige a preposição, traduzimos por “Do que você gosta?”)

                Haverá casos, no entanto, em que “renmen” virá seguido de um outro verbo. Se esse verbo exigir preposição, deve-se colocá-la no começo da frase. Veja o caso de “pale” (falar).

(2-A) M ap pale de Labib (Estou falando da Bíblia)

                A pregunta, tanto em português como em crioulo, exige preposição:

(2-B) De ki sa w ap pale? (Do que você está falando?)

              Se eu fizer uma construção com perífrase, ou seja, usando dois verbos, e o último exigir preposição, deve-se colocá-la no início da frase também.

(2-C) Do que você gosta de falar?

              Veja que a preposição do verbo “gostar” está lá no lugar dela, após o verbo. A preposição do verbo “falar” não poderia ser o último elemento da frase, por isso foi deslocada para o começo. Em crioulo, a tradução ficará:

(2-D) De ki sa w renmen pale?

                A forma “di” só aparece com dois significados em crioulo: verbo “dizer”, e o adjetivo “difícil, duro”. Como preposição aparece justaposta a algumas palavras, por isso já não se considera mais uma preposição. Sua origem é do francês “du” da junção de “de + le”. Um exemplo é a expressão “dimaten” que significa “pelas manhãs, de manhã”. Era uma locução adverbial francesa que passou a advérbio em crioulo.

                Espero que a dúvida tenha sido resolvida, do contrário, não se esqueçam: vocês perguntam, o blog responde.

quinta-feira, 31 de agosto de 2017

O que é "pran swen"?

Sobre a expressão “pran swen”, há alguns cuidados que devemos ter! Ué, mas “pran swen” não é “cuidar”? Sim. Mas não é “tomar cuidado”.
Quando usamos “pran swen” a ideia é “preocupar-se com, interessar-se por, tratar da saúde, do bem-estar de, tratar da aparência, conservação, manutenção de”.
Para a expressão “tomar cuidado”, no sentido de “ter precaução, atentar-se”, temos algumas opções como “pran prekosyon”, “fè atansyon”.
Para "sousi" a tradução primária seria "preocupação", e o verbo "sousye (w)" é o verbo português "preocupar-se". Lembre-se de sempre usar o pronome após o verbo (pois é verbo pronominal!) e a preposição "de". Uma frase como "Ele se preocupa conosco" ficará "Li sousye l de nou"
Agora, faça os exercícios para memorizar essa informação clicando aqui (em breve).

domingo, 13 de agosto de 2017

Orações optativas em crioulo haitiano

Que são “orações optativas”? São aquelas em que indicamos desejo ou vontade de que a ação indicada pelo verbo se realize. Em resumo, são frases que dizemos para expressar algo que desejamos a alguém.
É comum que essas tais orações optativas comecem por “que” em português. Um exemplo perfeito de frase optativa é “Que Deus te abençoe!” Os haitianos, sendo muito religiosos, usam bastante frases assim. Qualquer outra frase que envolva um desejo a alguém ou de algo aconteça, é uma optativa. Mas como construir uma frase assim em crioulo?!
Uma coisa é certa: nunca comece com “ki”. É um erro muito comum, que se tem visto bastante no crioulo dos brasileiros. “Ki” só é pronome relativo, conforme já vimos em uma lição só sobre isso. “Ki Bondye beni w” não é, portanto, uma frase aceitável em crioulo.
É comum dizer “mwen swete w...”, que é “eu lhe desejo...”, para situações assim. Mas há ainda uma outra forma, muitíssimo usada, e, se você ainda não a incluiu no seu vocabulário, faça isso amanhã mesmo. Deseje tudo de bom a todos que encontrar por aí!
“Se pou...” — essa é a forma mais adequada para as orações optativas. “Se pou Bondye beni w” é a maneira de dizer “Que Deus te abençoe”. Não pense numa tradução exata para “se pou...”, pense que seria o nosso “que” do começo desse tipo de frase.
Se alguém está doente, como desejar-lhe melhoras? “Ki w amelyore”?? Não!! Nunca mais!! Diga “Se pou w refè!”. “Refè” é a palavra mais adequada para esses casos, é como se estivéssemos dizendo “Que você se refaça!”, “Espero que você se renove!” É verdade que é possível que alguém deseje algo ruim a outra (que feio!), mas não aqui no blog, nem só de exemplo! (rs)
Gostou? Corra compartilhar as novidades do blog com outros. N ap wè!

quarta-feira, 2 de agosto de 2017

Cursos de Crioulo Haitiano

      Como vocês viram, o blog está de cara nova! Contamos com as observações de vocês. Esperamos poder melhorar alguns aspectos para facilitar sua navegação.
      Outra novidade, que muitos provavelmente já viram, é que há uma nova página aqui chamada CURSOS! Isso mesmo, o blog passará a oferecer cursos. O primeiro deles é Iniciação ao Crioulo Haitiano — Módulo I. Destina-se a pessoas recém-iniciadas, ou não iniciadas no crioulo haitiano. Logo haverá outros cursos mais específicos, e para outros públicos.
     Você se encaixa no público-alvo desse curso? Gostaria de cursá-lo? Clique aqui para ir à página de inscrições, lá você poderá registrar seu interesse em fazer o curso e obter mais informações sobre como será. Só depois que receber o convite, visto que as vagas serão limitadas, se abrirá o formulário de inscrições.
      Todos que preencherem o formulário de interesse vão receber resposta do blog, mesmo que não sejam selecionados para a primeira turma, que terá limite máximo de 10 alunos.
      Fiquem à vontade para compartilhar a novidade com seus conhecidos que têm interesse em aprender esse idioma.
      Babay!


segunda-feira, 24 de julho de 2017

Os números ordinais em crioulo haitiano — Parte 1

     Já faz algum tempo que vimos os números cardinais em crioulo haitiano. Agora, resta-nos ver como se escrevem por extenso os números ordinais. Portanto, vamos à nossa lista!
     Hoje vamos ver os números ordinais, do 1º ao 59º.


1º a 9º — 1ye jiska 9yèm

Primeiro = Premye

Segunda = Dezyèm

Terceiro = Twazyèm

Quarto = Katryèm

Quinto = Senkyèm

Sexto = Sizyèm

Sétimo = Setyèm

Oitavo = Uityèm

Nono = Nevyèm


10º a 19º — 10yèm jiska 19yèm

Décimo = Dizyèm

Décimo primeiro = Onzyèm

Décimo segundo = Douzyèm

Décimo terceiro = Trèzyèm

Décimo quarto = Katòzyèm

Décimo quinto = Kenzyèm

Décimo sexto = Sèzyèm

Décimo sétimo = Disètyèm

Décimo oitavo = Dizuityèm

Décimo nono = Diznevyèm


20º a 29º — 20yèm jiska 29yèm

Vigésimo = Ventyèm

Vigésimo primeiro = Venteyinyèm

Vigésimo segundo = Venndezyèm

Vigésimo terceiro = Venntwazyèm

Vigésimo quarto = Vennkatryèm

Vigésimo quinto = Vennsenkyèm

Vigésimo sexto = Vennsizyèm

Vigésimo sétimo = Vennsètyèm

Vigésimo oitavo = Ventuityèm

Vigésimo nono = Vennevyèm


30º a 39º — 30yèm jiska 39yèm

Trigésimo = Trantyèm

Trigésimo primeiro = Tanteyinyèm

Trigésimo segundo = Tranndezyèm

Trigésimo terceiro = Tranntwazyèm

Trigésimo quarto = Trannkatryèm

Trigésimo quinto = Trannsenkyèm

Trigésimo sexto = Trannsizyèm

Trigésimo sétimo = Trannsètyèm

Trigésimo oitavo = Trantuityèm

Trigésimo nono = Trannevyèm


40º a 49º — 40yèm jiska 49yèm

Quadragésimo = Karantyèm

Quadragésimo primeiro = Karanteyinyèm

Quadragésimo segundo = Karanndezyèm

Quadragésimo terceiro = Karanntwazyèm

Quadragésimo quarto = Karannkatryèm

Quadragésimo quinto = Karannsenkyèm

Quadragésimo sexto = Karannsizyèm

Quadragésimo sétimo = Karannsètyèm

Quadragésimo oitavo = Karantuityèm

Quadragésimo nono = Karannevyèm


50º a 59º — 50yèm jiska 59yèm

Quinquagésimo = Senkantyèm

Quinquagésimo primeiro = Senkanteyinyèm

Quinquagésimo segundo = Senkanndezyèm

Quinquagésimo terceiro = Senkanntwazyèm

Quinquagésimo quarto = Senkannkatryèm

Quinquagésimo quinto = Senkannsenkyèm

Quinquagésimo sexto = Senkannsizyèm

Quinquagésimo sétimo = Senkannsètyèm

Quinquagésimo oitavo = Senkantuityèm

Quinquagésimo nono = Senkannevyèm

      Logo mais continuamos... Até lá...! N ap wè
 

sábado, 3 de junho de 2017

Você pergunta, o blog responde — Como ler os números com a palavra “an”?

          É verdade que ler os números separados e lê-los com a palavra “an” (ano) é diferente. Acontecem mudanças fonéticas que afetam a morfologia (a forma) da palavra. Muitas vezes aparecem novos fonemas, são chamados de “fonemas de ligação”. A única razão de aparecerem, vogais ou consoantes de ligação, tem a ver com a eufonia (harmonia sonora) da língua. No caso do crioulo, os fonemas de ligação que aparecem entre os números e a palavra “an” se explicam por herança da língua francesa. Agora deixemos de teoria e vamos à prática...

OBS: Destaco os fonemas de ligação em negrito e sublinhado.

1 AN ficará ENNAN (intensifica-se o /n/)

2 AN ficará DEZAN (aparece o fonema /z/)

3 AN ficará TWAZAN (aparece o fonema /z/)

4 AN ficará KATRAN (aparece o fonema /R/)

5 AN ficará SENKAN (não aparece fonema de ligação)

6 AN ficará SIZAN (mudança de fonema surdo /s/ para sonoro /z/)

7 AN ficará SÈTAN (não aparece fonema de ligação)

8 AN ficará UITAN (não aparece fonema de ligação)

9 AN ficará NEVAN (mudança de fonema surdo /f/ para sonoro /v/, e fechamento da vogal ‘e’)

10 AN ficará DIZAN (mudança de fonema surdo /s/ para sonoro /z/)

          Os próximos números seguem os princípios analisados até aqui. “16 anos” ficará “sèzan”, “24 anos” ficará “vennkatran”, e assim por diante.

          Alguma dúvida? Já sabe: você pergunta, o blog responde.

sábado, 22 de abril de 2017

Você pergunta, o blog responde — Qual é a diferença entre SOUFRI e SIBI?


          Ambas as palavras podem ser traduzidas por “sofrer”, “passar por alguma experiência” (negativa). A diferença básica está na transitividade desses verbos. Mas o que isso significa? Vamos lá...

          Um verbo intransitivo não precisa de complemento.1 Um verbo transitivo pede um complemento.

Ex. do verbo ‘nascer’ como intransitivo: O bebê nasceu. A informação já é suficiente, não há necessidade de acrescentar mais detalhes, apesar de ser possível fazer isso.

Ex. do verbo ‘comprar’ como transitivo: Eu comprei um computador. Quem compra, compra alguma coisa.2 Seria muito estranho dizer simplesmente “Eu comprei”, a menos que o contexto permita.

          SOUFRI é instransitivo.

M ap soufri = Estou sofrendo > já não há necessidade de outra informação.

          SIBI é transitivo e espera-se que se identifique a causa do sofrimento ou a experiência (negativa) pela qual se está passando.

Li te soufri konsekans dezagreyab desizyon l te pran an = Ele sofreu as consequências desagradáveis da decisão que tomou > sibi konsekans, sofreu as consequências.

          Seria impossível dizer simplesmente *M ap sibi.3

          Espero que a dúvida tenha sido esclarecida! Babay tout moun!

NOTAS:
1 Um mesmo verbo pode ser ora intransitivo, ora transitivo, dependendo do contexto.
2 Ao complemento dum verbo transitivo damos o nome objeto.
3 O asterisco (*), usado antes de uma frase, indicará que a frase é inaceitável no idioma.

terça-feira, 4 de abril de 2017

Você pergunta, o blog responde: Qual é o correto: "monn" ou "mond"?

     Boa pergunta. Vamos falar um pouquinho de deriva e metaplasmos! Ops, desculpem... Não queria assustar, vou tentar ser menos técnico e mais objetivo. Está pronto? Vamos à história da língua...

     Qual é a língua que mais influenciou o vocabulário haitiano? O francês, isso mesmo. Saindo do francês para se transformar em crioulo temos alguns padrões bem-definidos. É o que chamamos de deriva, basicamente. Vou exemplificar: o português se originou do latim; entre essas duas línguas há alguns padrões, na passagem de uma para a outra. Quando em latim temos a sequência “pl”, tal sequência passa a “ch” em português. Do latim plumbum temos chumbo, de pluvia temos chuva.

     Do mesmo modo, em geral, o -nde- do francês passa a -nn- em crioulo. Assim, monde passa a monn. Por quê? Na palavra monde, em francês, o N é letra diacrítica, não é consoante. O n ali só está nasalando a vogal o. A letra D é consoante oclusiva linguodental surda. ‘Linguodental’ porque encostamos a língua na arcada dentária superior para proferi-la. O n, quando serve como consoante, também é linguodental. Assim, duas consoantes linguodentais próximas (-ND-) se assimilam, intensifica-se o N, ficam dois NN. Portanto, em crioulo, MONN. O e de monde some por apócope, visto que é vogal átona. Mas disso falamos depois.

     Como curiosidade, vale mencionar alguns fenômenos recentes parecidos em nossa língua. Na palavra também, temos a sequência -mb-. O m nessa palavra não é consoante, é letra diacrítica, só deixa o a nasal. Mas quando o m é consoante, classifica-se como consoante constritiva nasal bilabial. O b também é bilabial, o que acontece é que o -mb- se assimilam, intensifica-se o m, desaparece o b, e a pronúncia passa a ser tamém. Tudo bem que isso é um fenômeno fonético, mas, por favor, pronuncie o b. rsrs

     CONCLUSÃO: Em crioulo se diz ‘monn’. Alguns falam ‘mond’ por influência do francês. Não está errado dizer ‘mond’, mas aqui no blog damos preferência a ‘monn’.

sábado, 18 de março de 2017

O caso curioso das palavras variantes

     Você que está estudando crioulo haitiano deve ter-se perguntado alguma vez: Por que há várias palavras para dizer a mesma coisa? Será que há diferença entre verite e laverite? Bem, vamos considerar alguns pontos da história da língua.

     A primeira coisa que precisamos lembrar é que quando falamos de língua, estamos falando de sons. Emitimos sons que têm significados e são processados por aquele que fala conosco e eles reagem ao que falamos. A comunicação é realmente algo bastante intrigante, não é? Com o tempo, a língua, que é imaterial, passa a ter sua representação escrita. Passamos a materializar os sons com a escrita. Outro fenômeno bastante incrível. Cada uma das letras que eu estou colocando aqui representa um som que é interpretado por você que está lendo. Você entende os significados, aprende coisas novas, nós nos comunicamos.

     Quando representamos os sons na escrita, usamos espaços, para clareza na hora de ler o texto. Esse espaço nem sempre existe na fala. Escrevemos “pão de queijo” mas na fala o que acontece é /pãudikeiju/ (mais corretamente transcrito /pɐ̃w̃dikejʒʊ/). Assim, temos três vocábulos formais “pãosubstantivo depreposição queijosubstantivo”, mas na realidade fonética temos um só vocábulo fonético “pãodequeijo”. Então, vamos ao crioulo...

       O francês chega ao Haiti e diz “La vérité”. O haitiano sabe que “la” é um artigo, “vérité” um substantivo, e que os dois se escrevem separadamente? Não. Ele ouve uma coisa só, porque só há um vocábulo fonético, ele ouve “laverite”. Daqui a pouco ele ouve só a palavra “vérité”, o que acontece? Aparecem duas palavras com o mesmo significado: verite, laverite.

     Temos vários fenômenos desse tipo em português, resultado, sobretudo, do contato com os árabes. O português ouviu o árabe dizer al-qurān e não distinguiu que “al” era o artigo definido árabe e o “qurān” era a real palavra. Como faltou às aulas de árabe, tudo se uniu e o resultado foi uma palavra só, “Alcorão”, que alguns puristas dizem ser correto apenas “Corão”.

      Assim é que surgiram palavras variantes em crioulo, como:

espri, lespri > espírito, inteligência, mente

verite, laverite > verdade

Bib, Labib > Bíblia

kay, lakay > casa

gè, lagè > guerra

inivèsite, linivèsite > universidade

     Não se confunda, no entanto, com:

lapè (paz), pè (medo)

lafwa (fè), fwa (vez) etc.

     Apesar de não haver diferença entre as formas variantes, às vezes, um nativo vai preferir uma em vez de outra. Um haitiano poderia falar li se yon moun (ki gen) lespri > ele é uma pessoa inteligente, mas não falaria *li se yon moun (ki gen) espri. Determinar quando usar uma ou outra não é tão fácil, não se explica por nenhuma lógica gramatical, infelizmente. O importante é você não se preocupar excessivamente pela escolha. Na maioria dos casos, tanto faz uma ou outra forma.

     Antes de eu me despedir, lembre-se: la não é artigo em crioulo. Para dizer “a verdade”, deverá dizer “verite a” ou “laverite a”.

     Espero que mais uma dúvida tenha sido esclarecida. Comente abaixo sobre o assunto de hoje! Até mais!

segunda-feira, 6 de março de 2017

Por dentro da palavra GENYEN

     A palavra que vamos olhar com mais atenção hoje é GENYEN

gen.yen
1: verbo ganhar, vencer.
ex.: li te genyen batay la > ele ganhou a batalha
2: verbo haver, existir. var.: gen
ex.: gen(yen) yon machin nan lari > há um carro na rua
3: verbo ter, possuir. var.: gen
ex.: mwen gen(yen) yon liv kreyòl > eu tenho um livro de crioulo
     O que chamou a sua atenção ao ver de perto a definição dessa palavra? Na acepção 1, vimos que genyen significa ‘ganhar, vencer’. Veja que só nas acepções 2 e 3 é que aparece a forma gen. Assim, não há diferença entre genyen e gen. Mas com o significado ‘ganhar, vencer’, a única opção é genyen.
      Ah, antes que eu me esqueça: não use gen no final de frases.
      Atente-se também à pronúncia: não se lê GE-NY-EN, mas GEN-YEN, são apenas duas sílabas.
     Algum outro ponto a destacar? Alguma dúvida? Vamos discutir as dúvidas juntos.
                        FAÇA O EXERCÍCIO AQUI!

quarta-feira, 1 de março de 2017

Palavras femininas? Não exatamente.

     Umas das primeiras coisas que aprendemos sobre os substantivos em crioulo é que não há os gêneros masculino e feminino, diferente do português. Já tentou pensar na lógica do gênero de palavras? Se já tentou, viu que não há lógica.
     É isso mesmo, não há lógica. Algumas línguas (português, espanhol, italiano) têm palavras masculinas e femininas. Outras (inglês, crioulo haitiano) têm só o gênero neutro. Algumas outras (alemão, latim) têm masculino, feminino e neutro. Quanta confusão! Nenhuma lógica.
     Prova que não há lógica é carro ser masculino em português e espanhol, mas feminino em italiano e francês. Mulher em alemão é do gênero neutro (das Weib). Outra prova é que as palavras mudam de gênero com o passar do tempo! Sim, isso mesmo. A palavra fim é feminina em italiano e francês, é masculina em português moderno (o fim), mas já foi feminina em português arcaico! Assim como árvore já foi masculino (e é até hoje em espanhol, por exemplo) e planeta já foi feminino (e é até hoje em francês, por exemplo).
     Mesmo em línguas que não apresentam gênero de palavras, é comum transparecer um pouco dessa noção de gênero. O inglês possui um único artigo definido neutro (the). Algumas palavras, porém, tendem a ser referidas no feminino, como carro, navio. Mas, vamos  ao crioulo. E, antes de chegar lá, vamos a uma verdade importantíssima que não se pode deixar de lado:
“Ser a palavra do gênero neutro não significa que ela é irrestrita no uso. Uma palavra neutra pode ser restrita só a homens ou só a mulheres.”
     Geralmente chamamos as palavras restritas de marcadas. As irrestritas chamamos não-marcadas. Para entender melhor o conceito, reflita: a palavra dia é um termo não-marcado, é amplo; a palavra noite é um termo marcado, restrito a uma parte do dia, é menos abrangente. Em português, por exemplo, palavras masculinas tendem a ser não-marcadas, são mais abrangentes do que as palavras femininas. Quando eu digo ‘o homem está destruindo a terra’, esse homem refere-se a indivíduos de ambos os sexos. Essa é a razão de eu poder me dirigir a uma assistência composta de homens e mulheres por ‘senhores’, ou em ambiente religioso, por exemplo, por ‘irmãos’, mas não poder me referir apenas no feminino (senhoras, irmãs), a menos que a assistência seja exclusivamente composta por mulheres.
     Tudo isso explicado, vamos ao crioulo haitiano que tanto nos interessa. Primeira regra: todas as palavras são neutras, mas algumas apresentam formas exclusivas femininas. Isso acontece bastante com gentilícios, veja abaixo:
ayisyen (haitiano) > ayisyèn (haitiana)
brezilyen (brasileiro) > brezilyèn (brasileira)
ameriken (americano) > amerikèn (americana)
     Ao se referir ao povo de um país em geral, use a primeira forma, sem acento.
     Outras palavras que têm sua forma exclusiva feminina:
pwoklamatè (proclamador) > pwoklamatris (proclamadora)
kretyen (cristão) > kretyèn (cristã)
wa (rei) > rèn (rainha)
sèvitè (servo) > sèvant (serva)
     Vale lembrar que quando mudamos o final do substantivo não se trata, nesse caso, de flexão. Não há flexão de substantivos, ali se trata de sufixos derivacionais. Mas isso é só um detalhe técnico, rs! Estou ansioso para ler seus comentários e comentar suas dúvidas. Vamos enriquecer as discussões dos assuntos aqui no blog!
Até mais!

domingo, 26 de fevereiro de 2017

Por dentro da palavra MEN

     Já reparou que uma mesma palavra pode ter diversos sentidos? Nessa nova série o objetivo é expor os vários sentidos de uma palavra para que se evitem confusões. Que tal começar por uma palavra bem simples como “men”? Abaixo veja as possibilidades de significado.


men

1: substantivo mão.

ex.: men m yo sal > minhas mãos estão sujas

2: conjunção mas, porém, contudo, todavia, no entanto.

ex.: li te etidye anpil, men l pa t konnen repons lan > ele estudou muito, mas não sabia a resposta

3: advérbio eis, ‘aqui está’.

ex.: men nouvo liv mwen te achte a > aqui está o novo livro que eu comprei



      Fiquem à vontade para comentar pontos que acharem interessantes, será muito bom trocarmos experiência aqui no blog. Podemos também falar sobre pequenas diferenças nos usos de certas palavras com significado parecido. Assim, comentem, mandem sugestões. Qual é a próxima palavra que você gostaria de ver explicada?

       N ap wè! Babay!

            TESTE O QUE VOCÊ ACABOU DE APRENDER, CLIQUE AQUI

Encerramento das nossas atividades

Queridos leitores, O blog Aprann Kreyòl Ayisyen cumpriu seu objetivo. Estamos encerrando nossas atividades e não temos planos de postagens e...