quarta-feira, 7 de outubro de 2020

O que significa "pito"?

Não é fácil encontrar uma só palavra que equivalha a "pito", mas é possível entender o sentido de "pito". Tudo indica que "pito" vem do francês plutôt, que quer dizer algo como "em vez de". Este também é o sentido no crioulo haitiano, usa-se para expressar preferência por uma coisa em vez de outra. Veja: não é que pito seja o mesmo que em vez de, mas que carrega uma ideia parecida à da expressão em vez de. 

Uma outra comparação que possa ajudar a esclarecer o sentido de pito é compará-lo ao uso de antes no português, quando usado para expressar preferência. Dizemos "Antes só do que mal-acompanhado", e muitas outras frases possíveis. Veja que esse antes é justamente para marcar a preferência de ficar sozinho a ter uma má companhia por perto.

Aos alunos que falam inglês também facilita comparar pito a rather, no inglês, são termos bem equivalentes.

Espero que a explicação tenha ajudado você! O que achou? Deixe seu comentário!

sexta-feira, 8 de maio de 2020

PISKE e PASKE


Para responder a esta pergunta, não vejo alternativa senão recorrer a duas classificações comuns à Gramática Tradicional, ainda que estas nomenclaturas não sejam as melhores. Para o bem da concisão, no entanto, me abstenho do rigor da descrição linguística. Abstenho-me também de análises mais profundas, se é o superficial que nos ajudará.

“Paske” corresponde ao que a Gramática Tradicional chama de “conjunção coordenativa explicativa”, ao passo que “piske” se enquadra no que a Gramática Tradicional denomina “conjunção subordinativa causal”. Deixando de lado os nomes, pensemos nas ideias de CAUSA e CONSEQUÊNCIA.

“Piske” deve ser empregado quando existe a relação Causa > Consequência.

Piske l ap fè lapli, m pap soti jodi a (Visto que está chovendo, não vou sair hoje)

Temos, no exemplo acima, a relação Causa x Consequência. Abaixo encontra-se outro exemplo.

M pap soti jodi a paske l ap fè lapli (Não vou sair hoje porque está chovendo)

“Paske” é empregado neste contexto porque agora se explica a razão da decisão de não sair hoje. Tomou-se a decisão de não sair, e explicou-se a razão da decisão.

É verdade que ambos os exemplos acima são muito próximos em seu sentido e têm o mesmo resultado no mundo real. Note-se, no entanto, que no primeiro exemplo “piske” introduz a causa, e depois se diz a consequência. Exatamente nesta ordem. Não é o mesmo com o segundo exemplo, em que o termo “paske” introduz uma explicação, não uma consequência.

“Piske” introduz uma causa, para a qual haverá uma consequência. “Paske” introduz uma explicação.

Espero que esta breve explicação já lhes seja de proveito!

sábado, 25 de abril de 2020

Você pergunta, o blog responde: Qual é a diferença de “fè” e “fèt”?


Ótima pergunta. Nem sei por que ainda não tínhamos falado disso aqui. Então vamos lá...
         Antes, será necessário entender um processo que acontece com os verbos. Todos eles são termos que fazem EXIGÊNCIAS. Isso mesmo, eles exigem que outras palavras os acompanhem. Um verbo como VER, por exemplo, exige um SUJEITO (quem vê) e um OBJETO ou COMPLEMENTO (quem ou o que é visto). Assim é que temos uma frase como “João viu Maria”.
         Todo sujeito e todo objeto recebem algo que se chama PAPEL TEMÁTICO. O sujeito e o objeto sempre terão um papel em relação ao verbo, e esse papel muda de verbo para verbo. Um verbo como VER tem o sujeito que será o EXPERIENCIADOR (quem tem a experiência de ver) e um TEMA (a coisa que é vista).
[João]sujeito-EXPERIENCIADOR VIU [Maria]objeto-TEMA
         Agora, vamos nos concentrar na comparação dos seguintes exemplos:

João cortou a árvore
João cortou o cabelo

         As duas frases-exemplo têm como sujeito “João”. Mas qual é o papel temático de “João” em cada uma delas? Na primeira “João” recebe o papel temático de AGENTE porque ele faz a ação de ‘cortar a árvore’. No segundo exemplo, no entanto, “João” recebe o papel temático de PACIENTE, porque não foi ele que cortou o cabelo dele (até poderia, mas não foi rsrs) e ele recebe a ação.
         Que outros verbos exigem agentes? Pense em QUEBRAR. Alguém quebra alguma coisa. “João quebrou o vidro da janela”, “João” é o AGENTE de “quebrar”. Mas e se dissermos “O vidro da janela quebrou”, será que a janela fez a ação de quebrar? Não! Na verdade, alguém quebrou a janela.
         Não estamos aqui para entender todos os detalhes da atribuição de papéis temáticos pelos verbos, mas com as informações que temos, já é possível entender o básico que precisamos para diferenciar “fè” de “fèt”.
         FÈ é o verbo “fazer” e seu sujeito é sempre o AGENTE da ação.

[Guerline]AGENTE te FÈ yon gato = Guerline fez um bolo

         O sujeito “Guerline” recebe o papel temático de AGENTE, ela é que fez alguma coisa.
         Já FÈT é como uma variação do verbo “fazer” e o sujeito de FÈT recebe sempre o papel temático de PACIENTE.

[Gato sa a]PACIENTE FÈT pa Guerline = Este bolo foi feito pela Guerline
[Reyinyon an]PACIENTE FÈT ak patisipasyon nou = A reunião é/foi feita com a participação de vocês

         Veja que ao traduzir para o português, frases com “fèt” geralmente vão para a voz passiva (ex.: com a construções SER + particípio).

         FÈT também corresponde ao verbo “nascer”.

Ki kote l te fèt? = Onde ele nasceu?

         Não confunda o FÈT que explicamos aqui com o substantivo “fèt” que significa “festa”.

quinta-feira, 2 de abril de 2020

Como se diz “futuro” em crioulo haitiano?


         A palavra “futuro” pode ser usada como um substantivo ou como um adjetivo.

         O substantivo “futuro” pode ser definido como “tempo que se segue ao presente” ou “conjunto de fatos relacionados a um tempo que há de vir; destino, sorte.” Quando falamos sobre o futuro devemos usar a palavra avni ou lavni em crioulo haitiano. Não importa a forma, qualquer uma das duas está valendo!

Que futuro você quer para seu filho? = Ki avni ou vle pou pitit ou?

Vocês estão se preparando para o futuro? Èske n ap prepare nou pou lavni?

Você precisa planejar seu futuro = Ou bezwen planifye avni w

         A palavra “alavni” corresponde a “no futuro”, “futuramente”.

Quem sabe o que vai acontecer no futuro? = Kiyès ki konnen sa k pral pase alavni?

         Há também, no crioulo haitiano, a palavra fiti. Quando usá-la? Fiti é usado em um dos seguintes casos:

1)     Ao se referir ao “futuro” como tempo verbal, ou seja, ao falar sobre a gramática de uma língua.

Hoje vamos aprender a conjugar os verbos no futuro. = Jodi a nou pral aprann fason pou n konjige vèb yo nan fiti

2)    É possível que fiti apareça também como adjetivo, como em “futuro marido”, “futura esposa”, “geração futura” etc. Este uso é pouco comum, mas é possível.

Bons estudos a todos! Babay!

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2020

Curso de crioulo haitiano na melhor Universidade da América Latina



Nos dias 3, 4, 5 e 6 de fevereiro foi realizado o curso Noções introdutórias da gramática do crioulo haitiano no prédio de Letras da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, FFLCH-USP.

O curso foi oferecido pelo Serviço de Cultura e Extensão Universitária da FFLCH-USP. O professor Bruno Pinto Silva, autor do blog Aprann Kreyòl Ayisyen e pesquisador do Departamento de Linguística da FFLCH-USP, ministrou o curso.

No primeiro dia do curso foram abordados temas como a história do país, da língua, e da cultura haitiana. Ao final do primeiro dia foram ensinadas as expressões mais comuns para cumprimentar, agradecer, e outras frases prontas comuns usadas ao se apresentar a alguém.

No segundo dia foram abordados alguns aspectos da pronúncia do crioulo haitiano. Deu-se ênfase a sons que são mais desafiadores para brasileiros. Também foram apresentados alguns fenômenos que podem ocorrer na pronúncia de brasileiros devido a diferenças na constituição da sílaba fonológica no crioulo haitiano e no português brasileiro.

No terceiro dia falou-se a respeito de aspectos da morfossintaxe do crioulo haitiano. Um dos temas abordados foi o morfema {la}, que é o artigo definido (singular) do crioulo haitiano. Viu-se como o morfema {la} se transforma em la, lan, nan, a, an dependendo do contexto fonético. Após entender as regras morfológicas por detrás do artigo {la}, mostrou-se como colocá-lo corretamente em um sintagma nominal.

No quarto e último dia foram exploradas questões de sintaxe, ou seja, a organização de uma sentença no crioulo haitiano. Foi possível fazer um contraste entre as estruturas do português e do crioulo haitiano, o que ajudou a ver em que aspectos as duas línguas diferem e como os alunos podem dar mais atenção a esses detalhes. Depois prosseguiu-se com a exploração da marcação de tempo e aspecto nos verbos do crioulo haitiano. Foram explorados também traços semânticos específicos de alguns verbos (e sintagmas verbais) que têm relação direta com a interpretação de tempo e aspecto no crioulo.

Muito do que foi discuto no curso já está disponível aqui no blog, seja por meio de artigos ou de cursos (veja a página Cursos). Alguns dos detalhes compartilhados presencialmente em breve se tornarão artigos aqui também, ou cursos.

Abaixo seguem fotos da turma!





Créditos das fotos: Ágatha Coloniese (Instagram: @fiandeyo)

sexta-feira, 3 de janeiro de 2020

A preposição PA


Não param de chegar pedidos para que eu fale sobre quando PA é usado fora do contexto de negação. As pessoas geralmente perguntam qual é o outro sentido de PA. Aí é que se enganam. PA (marcador de negação) e PA (preposição) são duas palavras diferentes, não uma palavra com dois sentidos.

Uma palavra que tem vários sentidos é uma palavra polissêmica, o que não é o caso de PA. O caso de PA é de homonímia. O marcador de negação PA e a preposição PA são palavras homônimas. Palavras homônimas têm a mesma pronúncia, mas são escritas de maneiras distintas, como sessão, cessão, seção. Já no caso de PA, temos homônimos homógrafos, ou seja, além de terem pronúncias idênticas, são também grafadas (escritas) de maneira idêntica. O que nos esclarece que estas são duas palavras diferentes é a etimologia, isto é, a história da palavra.

PA como marcador de negação vem do francês pas, que também é lido [pa], apesar de haver um s na escrita. Esse s só é lido em contextos específicos no francês. A ortografia (as regras de escrita) do crioulo haitiano não aceitam essas letras que não são lidas. O princípio no crioulo haitiano é que a representação escrita da palavra deve ser bem semelhante à pronúncia, se se escrevesse pas, como em francês, seria necessário pronunciar esse s, e não é isso o que acontece. É assim que temos PA em crioulo, sem o s, simplesmente porque ele não é lido em francês, língua da qual vem o PA do crioulo.

PA como preposição vem do francês par, que também é uma preposição. No contato da língua francesa com as várias línguas africanas faladas pelos escravizados levados ao Haiti, resultou a língua que você está aprendendo, o crioulo haitiano. Dentre vários aspectos resultantes desse contato de línguas, a língua que surgiu, o crioulo haitiano, ganhou uma estrutura própria, que ora difere e ora se assemelha tanto ao francês quanto às línguas africanas que participaram de sua formação. Uma questão estrutural em que o crioulo haitiano difere do francês é o fato de que o crioulo haitiano não aceita /R/ no final de sílabas. É por isso que par virou PA em crioulo.

O resultado é que duas palavras diferentes em francês, pas e par, passaram a ter a mesma forma e a mesma pronúncia em crioulo haitiano. Aqui no blog já se falou do marcador de negação PA, você pode ver clicando aqui. Já falamos também a respeito da preposição POU, que você também pode ver clicando aqui. Hoje falaremos da preposição PA.

Veja as funções da preposição PA, e alguns exemplos:

  • Exprimir o AGENTE de uma ação, ou seja, aquele que a faz. Aqui a preposição equivale à preposição por.
Liv sa te ekri pa Pòl (Este livro foi escrito pelo Paulo)

  • Exprimir FREQUÊNCIA. Também equivale à preposição por.
De fwa pa semèn (duas vezes por semana) 

De fwa pa jou (duas vezes por dia)

  • Exprimir MULTIPLICAÇÃO e DIVISÃO
X miltipliye pa X (X multiplicado por X) 

X divize pa X (X dividido por X) 

  • Para exprimir DISTRIBUIÇÃO
De pa de (de dois em dois) 

  • Em algumas expressões fixas 

Pa egzanp (por exemplo) 

Pa kè (De cor) Ex.: Li konnen mizik sa a pa kè (ele sabe essa música de cor)

Pa konsekan (por conseguinte, portanto) 

Pa aza (por acaso) 

  • Como expressão enfática de posse
Zanmi pa m, kòman ou ye? (meu amigo, como você está?) 

Desta última construção já falamos em outra coisa aqui no blog, você ler mais clicando aqui


Por hoje é só. Espero que vocês consigam praticar agora o uso da preposição PA. Babay!

Encerramento das nossas atividades

Queridos leitores, O blog Aprann Kreyòl Ayisyen cumpriu seu objetivo. Estamos encerrando nossas atividades e não temos planos de postagens e...