Opa! Lá vem o Bruno e seus nomes difíceis. Não é culpa minha, é da
Linguística. Mas vocês sabem, eu até falo uns nomes difíceis, mas sempre
explico depois. Vamos a mais um detalhe do crioulo haitiano.
Faz exatamente duas horas que recebi um comentário no post sobre
verbos pronominais. Ali, parece que uma frase específica chamou a atenção da
leitora. É a frase “Li enpòtan pou w debarase tèt ou anba tristès” (é
importante que você se livre da tristeza). Ora, o que causou dúvida é o
fato de a frase começar com “li” e não haver, na tradução, o pronome “ele”. Li
não é ele?! Dúvida interessantíssima, riquíssima.
Em primeiro lugar é bom
esclarecer que o crioulo haitiano é uma língua não pro-drop. Ué, o que é
isso?! Línguas pro-drop são línguas que permitem, por exemplo, usar o
verbo sem o sujeito expresso. Como assim? Se você diz “comprei um livro ontem”
sabemos que o sujeito é “eu” porque a terminação do verbo (-ei) nos indica
isso, mas o pronome “eu” não está lá. É possível também dizer “eu comprei um
livro ontem” e deixar o sujeito lá no lugarzinho dele. É por isso que dizemos
que o português é uma língua pro-drop, ou parcialmente pro-drop,
mas não queremos entrar na questão do parcialmente agora, afinal aqui
estamos mais concentrados no crioulo, o português já sabemos naturalmente,
mesmo que as regras não sejam claras a nós.
Outras línguas, no
entanto, são não pro-drop, e, portanto, EXIGEM que o verbo tenha seu
sujeito explícito na oração. Alguns exemplos são o inglês, o francês e o... kreyòl
ayisyen! Mesmo com verbos impessoais, como verbos de fenômeno da natureza, é
necessário haver um sujeito. Pense no exemplo (1).
(1)
Choveu ontem
Ora, em português o verbo
“chover” rejeita qualquer pronome, é impossível algo como *ele choveu ontem. Nas
línguas que exigem sujeito, no entanto, o espaço antes do verbo, ou seja, o
lugar do sujeito, obrigatoriamente deve estar preenchido. O inglês usa o
pronome “it” para isso, e recebe até um nome especial — “dummy it”.
Assim, em inglês dizemos como em (2).
(2)
It rained yesterday (algo como: ‘ele’ choveu
ontem)
Em inglês não se
poderia começar a sentença (2) com o verbo diretamente, como em português. O
mesmo acontece com o crioulo. O sujeito precisa estar lá, bem evidente antes do
verbo. É por isso que para dizer “está chovendo” dizemos em crioulo algo como “ele
está chovendo”, veja em (3)
(3)
L ap fè lapli
O “ele”, nesse caso,
está aí com um sentido meio que vazio, só para preencher um espaço. Já para
dizer “é importante que...” o verbo SER, que é SE em crioulo, não aparece. (Veja
a série de matérias sobre o uso do verbo SER e ESTAR) No entanto, o espaço do
sujeito deve ser preenchido. É por isso que usamos LI ou SA. Então dizemos “Li
enpòtan...” ou “Sa enpòtan...”.
Portanto, é muito
importante que você pratique bastante! (Li/Sa enpòtan pou w pratike anpil!)
Acho que até aqui já
deu, não é? Reflita nesses conceitos e tente observar como esse tipo de construção
se comporta no crioulo e no português! Até mais!
P.S.: É bom esclarecer que existe uma minoria de verbos em crioulo haitiano que se comportam de maneira diferente, é por isso que com “genyen” e “sanble”, por exemplo, é possível começar a sentença a partir do verbo.
P.S.: É bom esclarecer que existe uma minoria de verbos em crioulo haitiano que se comportam de maneira diferente, é por isso que com “genyen” e “sanble”, por exemplo, é possível começar a sentença a partir do verbo.
Li te fè lapli yè.
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