O português é
muito rico em opções, por ser rico, é complicado. Mesmo quando comparado às
outras línguas da mesma família, a saber, o italiano, o espanhol, e o francês.
O crioulo, porém, estabelece muito bem o uso de seus pronomes e a colocação
deles na frase, por isso é menos complicado. Mas, a nossa colocação dos
pronomes nem sempre coincidirá com a deles. Vamos a mais esse estudo!
Em nosso idioma,
os pronomes pessoais se dividem em: retos e oblíquos, estes últimos
dividindo-se em átonos e tônicos. Lembremo-nos das funções dessas duas
classificações. Os pronomes retos se empregam em posição de sujeito, eles
conjugam os verbos. São pronomes retos: eu, tu, você, ele, ela, nós, vocês,
eles, elas. Já os oblíquos se empregam em posição de objeto, ou seja, o
complemento do verbo. São oblíquos átonos (não pedem preposição): me, te, se,
o, a, lhe, nos, vos, se, os, as, lhes. São oblíquos tônicos (e pedem
preposição): a mim, a ti, a si, a nós, a vós, a si. Veja abaixo.
Eu comprei-lhe um livro
Eu = É o sujeito, é sobre quem se fala na oração, está
conjugando o verbo. É pronome reto.
Lhe = É o complemente, a quem o livro foi comprado, aparece
depois do verbo (já que é complemento). É pronome obliquo átono.
Eu comprei a ele um
livro
Eu = Dispensa comentário já que é caso idêntico ao explicado
acima. É pronome reto.
Ele = Ele, neste caso, funciona como pronome oblíquo tônico,
é complemento do verbo, não o está conjugando e é precedido de preposição. Se
dissermos “Ele comprou um livro a ele”, o primeiro “ele” é pronome reto e o
último oblíquo tônico.
Não basta toda a
divisão dos pronomes. Nossa rica língua portuguesa nos fornece três formas de
posicioná-los junto aos verbos. Chamam-se os posicionamentos dos pronomes
oblíquos átonos:
PRÓCLISE > O pronome aparece ANTES do verbo.
Ex.: Eu te
disse!
ÊNCLISE > O pronome aparece APÓS o verbo, ligado por
hífen.
Ex.: Ele queixou-se
da vida.
MESÓCLISE > O pronome aparece no meio do verbo! Estando
estes verbos no futuro do presente ou futuro do pretérito.
Ex.: “Falaria a
mim” torna-se “falar-me-ia”
Em crioulo você não tem opção. Os pronomes
retos sempre se antepõem (aparecem antes) aos verbos. Já os oblíquos átonos,
estes devem aparecer enclíticos ao verbo, ou seja, sempre DEPOIS, mas não separados por hífen como fazemos em
português. Vejam os exemplos:
Quero te dizer uma
coisa
Em crioulo
teremos de alterar duas coisas. Não dá para começar a frase simplesmente
partindo do verbo, pois eles não são desinenciais (clique aqui para saber mais da conjugação em crioulo). Assim, devemos dizer “Eu quero”. Outo detalhe: note
que dissemos “te falar”, em crioulo vamos usar a ênclise, ou seja, “falar-te”.
Fica então: “Eu quero falar-te uma coisa”. Agora conseguiremos traduzir ao pé
da letra.
EU |
QUERO | DIZER-TE | UMA | COISA
MWEN | VLE |
DI OU | YON | BAGAY
Simplificando tudo: a colocação do
pronome é essencial para não haver confusão. Quando o pronome vem antes do
verbo ele é sujeito (é de quem se fala na frase) e quando está depois do verbo
ele é complemento. Imagine que você queira dizer “Me ajude” (Ajude-me) se você
disser “Mwen ede” você está dizendo “Eu ajudo” mas quando você diz “Ede m” ou
“Ede mwen”, então, sim, você está dizendo “Me ajude”.
Evite
o brasileirismo no crioulo. Havendo muitos brasileiros interessados nesse
idioma, alguns estão “importando” para o crioulo o brasileirismo (falo dos
brasileiros porque isso é mais comum aqui, assim não injustiço os portugueses
que leem este Blog) de dizer “para ele” ou “a ele” em vez de “lhe”. Assim,
observem o que ocorre:
Diz-se no Brasil:
Eu disse para você
Em vez de se dizer:
“Eu lhe disse” ou “Eu disse-lhe”
Deste modo, alguns dizem: “Mwen te di pou ou”. Note-se a preposição “pou”.
Ora, este uso não é comum do crioulo, mas do português brasileiro. Assim,
queira dar atenção à informação abaixo:
Eu disse a você / Eu te disse = M
te di ou (não, pou ou)
Você disse a mim / Você me disse
= Ou te di m (não, pou mwen)
Ele disse a nós / Ele nos disse =
Li te di nou (não, pou nou)
Nós dissemos a vocês = Nós lhe
dissemos = Nou te di nou (não, pou nou)
Vocês disseram a eles / Vocês
lhes disseram = Nou te di yo (não, pou yo)
Outra coisa que repele o uso de “pou” é o
fato de o verbo dizer (di) ser transitivo direto, ou seja, não pede
preposição. Repare que o verbo não pede preposição nem mesmo em casos de nome
próprio.
Em português, geralmente, na linguagem popular, a ordem
é “dizer para alguém algo”. Essa também será a ordem no crioulo. Assim, ficará:
“dizer + a pessoa a quem se diz + o que se diz”, note que não haverá preposição em
momento algum. Vejamos o exemplo de uma frase.
Em português: Eu disse para o Bruno que quero comprar água.
Em crioulo: Mwen te di Bruno mwen
vle achte dlo
Verbo conjugado: Mwen te di
A pessoa a quem se disse algo:
Bruno
O que se disse: mwen vle achte
dlo
Reparou que se traduzirmos exatamente
para o português a frase ficaria estranha? A tradução literal é: “Eu disse
Bruno eu quero água”. Não usamos a preposição “para” ou “a” e muito menos o
“que”. Então, lembre-se: Verbo DIZER + a pessoa a quem se diz (seja um pronome
ou nome próprio) + o que você disse.
Parece um pouco complicado né? Que tal
fazer várias frases com esse verbo? Que tal fazer várias frases usando os
pronomes me, te, se, o, a, lhe, nos, vos, se, os, as, lhes? Se tem alguma
dúvida específica, não deixe de mandar uma mensagem para o Blog usando o
formulário de dúvidas (se você está acessando pelo computador) ou pelo e-mail aulasdecrioulohaitiano@gmail.com.
Até mais! N a wè pita! Babay!
Revisado em 05/01/2016.
Este trabalho está licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial 4.0 Internacional.
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Boa Tarde!
ResponderExcluirGostaria de saber o que significa "lefètke".
Mèsi!
O fato de...
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