quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

Èske — Esclarecendo o uso

      Quem nunca se deparou com o famoso “èske”? Todos já o viram, não é? Vamos fazer um breve estudo para esclarecer o uso desse marcador de pergunta.
      Como já mencionei o “èske” marca uma pergunta. É usado no começo da pergunta. Sua origem é no francês, como a maioria dos vocábulos do idioma crioulo haitiano. No francês escreve-se “Est-ce que” mas se lê /éskê/. Não podemos dizer que há uma tradução totalmente compatível do “èske” na língua portuguesa, apesar do nosso “será”, usado para marcar uma incerteza, ser o que chega mais perto.
Será que ele virá?
Èske li pral vini ?
       Qualquer pergunta que não comece com ki kote, ki bò, kòman, ki jan, ki fason, kiyès, ki moun, ki lè, poukisa, konbyen* etc. devem começar com “èske”, na linguagem mais formal. Na fala, assim como ocorre no português, a pergunta pode ser marcada apenas pela entonação de pergunta.
Você fala crioulo haitiano?
Èske ou pale kreyòl ayisyen ?
      Não se pode deixar de citar que o “èske” é um marcador de perguntas indiretas. Como assim? Bem, às vezes, fazemos perguntas indiretas e estas dispensam o uso do ponto de interrogação. Veja abaixo.
Pergunte se ele fala português.
(Esta é uma pergunta indireta; não seu usa o “?”.)
Como ficaria em crioulo? Assim...
Mande l èske li pale pòtigè.
      Espero que possa ter ajudado com suas dúvidas. Ficou alguma? Não hesite, mande já uma mensagem para o Blog! Teremos prazer em considerar sua perguntar e respondê-la.


*Veja o artigo sobre formular perguntas clicando aqui.

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terça-feira, 19 de janeiro de 2016

Cumprimentando, agradecendo e se despedindo em crioulo haitiano

     Conforme o prometido, começaremos a ter matérias de assuntos mais básicos, além dos que explicam a gramática. Um desses assuntos que estava faltando por aqui é sobre cumprimentos, agradecimentos e como se despedir em crioulo. Então, veremos frases prontas, que, você estudante iniciante, poderá usar ao conversar com eles.

AO CUMPRIMENTAR
Bom dia! → Bonjou! (Ao chegar)
Tenha um bom dia! → Mwen swete w yon bon jounen! (Ao se despedir)
Boa tarde! → Bonswa! (Ao chegar)
Tenha uma boa tarde → Mwen swete w yon bon aprèmidi! (Ao se despedir)
Boa noite! → Bonswa! (Ao chegar)
Tenha uma boa noite! → Mwen swete w yon bon nuit! (Ao se despedir)
Como você está? → Kòman ou ye? / Ki jan ou ye?
Estou bem! → Mwen byen! / Mwen anfòm / Mwen pa pi mal / Mwen la.
E você? → E ou menm?
Eu também! → Mwen menm tou.
     Uma expressão muito usada para cumprimento é “Sa k pase?” (Ki sa ki pase) que literalmente é “o que está acontecendo?”, mas corresponde ao nosso “como está? Tudo bem?”. A resposta mais comum a este cumprimento é “N ap boule”. Reparem que mesmo que você esteja falando com apenas um haitiano o comum é a resposta estar no plural “Estamos lidando”. Veja mais dessa expressão clicando aqui.

AO AGRADECER
Obrigado/Obrigada → Mèsi!
Muito obrigado (a) → Mèsi anpil!
De nada! / Não há de quê. / Disponha → Deryen / Padekwa / Anyen / Pa gen pwoblèm.
Muito obrigado (a) por ... → Mèsi anpil pou ... / Mèsi anpil dèske ou te ...
‘Muito obrigado por ter me recebido’ → Mèsi anpil dèske ou te resevwa m lakay ou !

AO SE DESPEDIR
‘Tenho que ir embora’ → Fò m ale.
Estou indo → M ale.
Foi um prazer conhecê-lo! → Se te yon plezi pou mwen rekonèt ou.
Até mais! / Até logo! → N a wè pita! / Orevwa!
Tchau! → Babay!

     Sentiu falta de alguma expressão? Mencione nos comentários e eu a coloco aqui. Até mais! N a wè pita!

Revisão de 29/02/2016.

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sábado, 9 de janeiro de 2016

S’on, G’on, F’on — Isso é mesmo crioulo haitiano? Sim.

     Este artigo pertence a um novo gênero de artigos que serão postados no Blog. Como todos sabem, temos tratado bastante da gramática da língua escrita. Mas, como também se sabe, a escrita e a fala são dois universos distintos. Algumas coisas só pertencem à fala. Outras, são mais comuns na escrita. Hoje, vou registrar alguns “fenômenos” que fazem parte da fala dos haitianos, mas não é registrada na escrita formal. Você está convidado a embarcar no mundo da fala com o Blog Aprann Kreyòl Ayisyen!
    Bem, hoje, só por hoje (rsrs), vamos esquecer a tradicional gramática e vamos entender como algumas coisas funcionam na realidade do falante. Por isso, não vou analisar gramaticalmente esses fenômenos linguísticos, apenas quero registrá-los e, assim, quando se depararem com isso saberão o que é que os haitianos querem dizer.

S’on → Repare que eu fiz questão de colocar o apóstrofo (‘) separando o “S” do “on”. Por quê? “S’on” é a aglutinação do verbo “se” com o artigo indefinido “yon”. Isso mesmo. Em vez de dizer “se yon”, no quotidiano o mais comum será ouvir “s’on”. O uso do apóstrofo serve para marcar que houve a perda de algumas vogais neste processo de aglutinação; deste modo não se confunde “s’on” com “son”, que é o substantivo “som”, em português.
Na escrita...
Li se yon bon moun = Ele é uma pessoa boa
Mas na fala...
Li s’on bon moun = Ele é uma pessoa boa

G’on → Consegue descobrir que duas palavras se juntaram? Esta é a aglutinação do verbo “gen” (ter) com o artigo indefinido “yon” (um, uma). Veja como funciona.
Na escrita...
Mwen gen yon zanmi ayisyen 
= Tenho um amigo haitiano
Mas na fala...
M g’on zanmi ayisyen 
= Tenho um amigo haitiano

F’on → Esta trata-se da aglutinação do verbo “fè” (fazer) com o artigo indefinido “yon” (um, uma).
Na escrita...
Èske ou ka fè yon ti bagay pou mwen?
= Pode fazer uma coisa para mim?
Mas na fala...
Èske ou ka f’on ti bagay pou mwen?
= Pode fazer uma coisa pra mim?

     Hoje, compartilhei estes três fatos que fazem parte da língua falada. Há muitos outros. Outro dia ouvi “g’anpil”, de “gen” com “anpil”. No nosso idioma também há casos semelhantes. Dizemos “pra” em vez de “para a”. Dizemos “coa” em vez de “com a”. Essas contrações já não aparecem nos textos, mas são registradas pela língua culta! E, sem dúvida, continuam vivas na fala.

     Esse foi o artigo de hoje. Por favor, “conta co Blog pra te ajudar coa língua”. Compartilhe nos comentários as que você já ouviu! Até mais. Babay!

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terça-feira, 5 de janeiro de 2016

Colocação pronominal no crioulo haitiano

      O português é muito rico em opções, por ser rico, é complicado. Mesmo quando comparado às outras línguas da mesma família, a saber, o italiano, o espanhol, e o francês. O crioulo, porém, estabelece muito bem o uso de seus pronomes e a colocação deles na frase, por isso é menos complicado. Mas, a nossa colocação dos pronomes nem sempre coincidirá com a deles. Vamos a mais esse estudo!
      Em nosso idioma, os pronomes pessoais se dividem em: retos e oblíquos, estes últimos dividindo-se em átonos e tônicos. Lembremo-nos das funções dessas duas classificações. Os pronomes retos se empregam em posição de sujeito, eles conjugam os verbos. São pronomes retos: eu, tu, você, ele, ela, nós, vocês, eles, elas. Já os oblíquos se empregam em posição de objeto, ou seja, o complemento do verbo. São oblíquos átonos (não pedem preposição): me, te, se, o, a, lhe, nos, vos, se, os, as, lhes. São oblíquos tônicos (e pedem preposição): a mim, a ti, a si, a nós, a vós, a si. Veja abaixo.

Eu comprei-lhe um livro

Eu = É o sujeito, é sobre quem se fala na oração, está conjugando o verbo. É pronome reto.
Lhe = É o complemente, a quem o livro foi comprado, aparece depois do verbo (já que é complemento). É pronome obliquo átono.

Eu comprei a ele um livro

Eu = Dispensa comentário já que é caso idêntico ao explicado acima. É pronome reto.
Ele = Ele, neste caso, funciona como pronome oblíquo tônico, é complemento do verbo, não o está conjugando e é precedido de preposição. Se dissermos “Ele comprou um livro a ele”, o primeiro “ele” é pronome reto e o último oblíquo tônico.
      Não basta toda a divisão dos pronomes. Nossa rica língua portuguesa nos fornece três formas de posicioná-los junto aos verbos. Chamam-se os posicionamentos dos pronomes oblíquos átonos:

PRÓCLISE > O pronome aparece ANTES do verbo.
     Ex.: Eu te disse!

ÊNCLISE > O pronome aparece APÓS o verbo, ligado por hífen.
     Ex.: Ele queixou-se da vida.

MESÓCLISE > O pronome aparece no meio do verbo! Estando estes verbos no futuro do presente ou futuro do pretérito.
      Ex.: “Falaria a mim” torna-se “falar-me-ia”

      Em crioulo você não tem opção. Os pronomes retos sempre se antepõem (aparecem antes) aos verbos. Já os oblíquos átonos, estes devem aparecer enclíticos ao verbo, ou seja, sempre DEPOIS, mas não separados por hífen como fazemos em português. Vejam os exemplos:

Quero te dizer uma coisa

     Em crioulo teremos de alterar duas coisas. Não dá para começar a frase simplesmente partindo do verbo, pois eles não são desinenciais (clique aqui para saber mais da conjugação em crioulo). Assim, devemos dizer “Eu quero”. Outo detalhe: note que dissemos “te falar”, em crioulo vamos usar a ênclise, ou seja, “falar-te”. Fica então: “Eu quero falar-te uma coisa”. Agora conseguiremos traduzir ao pé da letra.

EU           |  QUERO   |   DIZER-TE    |   UMA   |   COISA
MWEN    |     VLE     |       DI OU       |   YON    |   BAGAY

      Simplificando tudo: a colocação do pronome é essencial para não haver confusão. Quando o pronome vem antes do verbo ele é sujeito (é de quem se fala na frase) e quando está depois do verbo ele é complemento. Imagine que você queira dizer “Me ajude” (Ajude-me) se você disser “Mwen ede” você está dizendo “Eu ajudo” mas quando você diz “Ede m” ou “Ede mwen”, então, sim, você está dizendo “Me ajude”.

      Evite o brasileirismo no crioulo. Havendo muitos brasileiros interessados nesse idioma, alguns estão “importando” para o crioulo o brasileirismo (falo dos brasileiros porque isso é mais comum aqui, assim não injustiço os portugueses que leem este Blog) de dizer “para ele” ou “a ele” em vez de “lhe”. Assim, observem o que ocorre:

Diz-se no Brasil:
     Eu disse para você
Em vez de se dizer:
     “Eu lhe disse” ou “Eu disse-lhe”

      Deste modo, alguns dizem: “Mwen te di pou ou”. Note-se a preposição “pou”. Ora, este uso não é comum do crioulo, mas do português brasileiro. Assim, queira dar atenção à informação abaixo:

Eu disse a você / Eu te disse = M te di ou (não, pou ou)
Você disse a mim / Você me disse = Ou te di m (não, pou mwen)
Ele disse a nós / Ele nos disse = Li te di nou (não, pou nou)
Nós dissemos a vocês = Nós lhe dissemos = Nou te di nou (não, pou nou)
Vocês disseram a eles / Vocês lhes disseram = Nou te di yo (não, pou yo)

      Outra coisa que repele o uso de “pou” é o fato de o verbo dizer (di) ser transitivo direto, ou seja, não pede preposição. Repare que o verbo não pede preposição nem mesmo em casos de nome próprio.
      Em português, geralmente, na linguagem popular, a ordem é “dizer para alguém algo”. Essa também será a ordem no crioulo. Assim, ficará: “dizer + a pessoa a quem se diz + o que se diz”, note que não haverá preposição em momento algum. Vejamos o exemplo de uma frase.

Em português: Eu disse para o Bruno que quero comprar água.
Em crioulo: Mwen te di Bruno mwen vle achte dlo
Verbo conjugado: Mwen te di
A pessoa a quem se disse algo: Bruno
O que se disse: mwen vle achte dlo

      Reparou que se traduzirmos exatamente para o português a frase ficaria estranha? A tradução literal é: “Eu disse Bruno eu quero água”. Não usamos a preposição “para” ou “a” e muito menos o “que”. Então, lembre-se: Verbo DIZER + a pessoa a quem se diz (seja um pronome ou nome próprio) + o que você disse.
      Parece um pouco complicado né? Que tal fazer várias frases com esse verbo? Que tal fazer várias frases usando os pronomes me, te, se, o, a, lhe, nos, vos, se, os, as, lhes? Se tem alguma dúvida específica, não deixe de mandar uma mensagem para o Blog usando o formulário de dúvidas (se você está acessando pelo computador) ou pelo e-mail aulasdecrioulohaitiano@gmail.com.

       Até mais! N a wè pita! Babay!
Revisado em 05/01/2016.

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Encerramento das nossas atividades

Queridos leitores, O blog Aprann Kreyòl Ayisyen cumpriu seu objetivo. Estamos encerrando nossas atividades e não temos planos de postagens e...