sábado, 22 de abril de 2017

Você pergunta, o blog responde — Qual é a diferença entre SOUFRI e SIBI?


          Ambas as palavras podem ser traduzidas por “sofrer”, “passar por alguma experiência” (negativa). A diferença básica está na transitividade desses verbos. Mas o que isso significa? Vamos lá...

          Um verbo intransitivo não precisa de complemento.1 Um verbo transitivo pede um complemento.

Ex. do verbo ‘nascer’ como intransitivo: O bebê nasceu. A informação já é suficiente, não há necessidade de acrescentar mais detalhes, apesar de ser possível fazer isso.

Ex. do verbo ‘comprar’ como transitivo: Eu comprei um computador. Quem compra, compra alguma coisa.2 Seria muito estranho dizer simplesmente “Eu comprei”, a menos que o contexto permita.

          SOUFRI é instransitivo.

M ap soufri = Estou sofrendo > já não há necessidade de outra informação.

          SIBI é transitivo e espera-se que se identifique a causa do sofrimento ou a experiência (negativa) pela qual se está passando.

Li te soufri konsekans dezagreyab desizyon l te pran an = Ele sofreu as consequências desagradáveis da decisão que tomou > sibi konsekans, sofreu as consequências.

          Seria impossível dizer simplesmente *M ap sibi.3

          Espero que a dúvida tenha sido esclarecida! Babay tout moun!

NOTAS:
1 Um mesmo verbo pode ser ora intransitivo, ora transitivo, dependendo do contexto.
2 Ao complemento dum verbo transitivo damos o nome objeto.
3 O asterisco (*), usado antes de uma frase, indicará que a frase é inaceitável no idioma.

terça-feira, 4 de abril de 2017

Você pergunta, o blog responde: Qual é o correto: "monn" ou "mond"?

     Boa pergunta. Vamos falar um pouquinho de deriva e metaplasmos! Ops, desculpem... Não queria assustar, vou tentar ser menos técnico e mais objetivo. Está pronto? Vamos à história da língua...

     Qual é a língua que mais influenciou o vocabulário haitiano? O francês, isso mesmo. Saindo do francês para se transformar em crioulo temos alguns padrões bem-definidos. É o que chamamos de deriva, basicamente. Vou exemplificar: o português se originou do latim; entre essas duas línguas há alguns padrões, na passagem de uma para a outra. Quando em latim temos a sequência “pl”, tal sequência passa a “ch” em português. Do latim plumbum temos chumbo, de pluvia temos chuva.

     Do mesmo modo, em geral, o -nde- do francês passa a -nn- em crioulo. Assim, monde passa a monn. Por quê? Na palavra monde, em francês, o N é letra diacrítica, não é consoante. O n ali só está nasalando a vogal o. A letra D é consoante oclusiva linguodental surda. ‘Linguodental’ porque encostamos a língua na arcada dentária superior para proferi-la. O n, quando serve como consoante, também é linguodental. Assim, duas consoantes linguodentais próximas (-ND-) se assimilam, intensifica-se o N, ficam dois NN. Portanto, em crioulo, MONN. O e de monde some por apócope, visto que é vogal átona. Mas disso falamos depois.

     Como curiosidade, vale mencionar alguns fenômenos recentes parecidos em nossa língua. Na palavra também, temos a sequência -mb-. O m nessa palavra não é consoante, é letra diacrítica, só deixa o a nasal. Mas quando o m é consoante, classifica-se como consoante constritiva nasal bilabial. O b também é bilabial, o que acontece é que o -mb- se assimilam, intensifica-se o m, desaparece o b, e a pronúncia passa a ser tamém. Tudo bem que isso é um fenômeno fonético, mas, por favor, pronuncie o b. rsrs

     CONCLUSÃO: Em crioulo se diz ‘monn’. Alguns falam ‘mond’ por influência do francês. Não está errado dizer ‘mond’, mas aqui no blog damos preferência a ‘monn’.

Encerramento das nossas atividades

Queridos leitores, O blog Aprann Kreyòl Ayisyen cumpriu seu objetivo. Estamos encerrando nossas atividades e não temos planos de postagens e...