sábado, 9 de janeiro de 2016

S’on, G’on, F’on — Isso é mesmo crioulo haitiano? Sim.

     Este artigo pertence a um novo gênero de artigos que serão postados no Blog. Como todos sabem, temos tratado bastante da gramática da língua escrita. Mas, como também se sabe, a escrita e a fala são dois universos distintos. Algumas coisas só pertencem à fala. Outras, são mais comuns na escrita. Hoje, vou registrar alguns “fenômenos” que fazem parte da fala dos haitianos, mas não é registrada na escrita formal. Você está convidado a embarcar no mundo da fala com o Blog Aprann Kreyòl Ayisyen!
    Bem, hoje, só por hoje (rsrs), vamos esquecer a tradicional gramática e vamos entender como algumas coisas funcionam na realidade do falante. Por isso, não vou analisar gramaticalmente esses fenômenos linguísticos, apenas quero registrá-los e, assim, quando se depararem com isso saberão o que é que os haitianos querem dizer.

S’on → Repare que eu fiz questão de colocar o apóstrofo (‘) separando o “S” do “on”. Por quê? “S’on” é a aglutinação do verbo “se” com o artigo indefinido “yon”. Isso mesmo. Em vez de dizer “se yon”, no quotidiano o mais comum será ouvir “s’on”. O uso do apóstrofo serve para marcar que houve a perda de algumas vogais neste processo de aglutinação; deste modo não se confunde “s’on” com “son”, que é o substantivo “som”, em português.
Na escrita...
Li se yon bon moun = Ele é uma pessoa boa
Mas na fala...
Li s’on bon moun = Ele é uma pessoa boa

G’on → Consegue descobrir que duas palavras se juntaram? Esta é a aglutinação do verbo “gen” (ter) com o artigo indefinido “yon” (um, uma). Veja como funciona.
Na escrita...
Mwen gen yon zanmi ayisyen 
= Tenho um amigo haitiano
Mas na fala...
M g’on zanmi ayisyen 
= Tenho um amigo haitiano

F’on → Esta trata-se da aglutinação do verbo “fè” (fazer) com o artigo indefinido “yon” (um, uma).
Na escrita...
Èske ou ka fè yon ti bagay pou mwen?
= Pode fazer uma coisa para mim?
Mas na fala...
Èske ou ka f’on ti bagay pou mwen?
= Pode fazer uma coisa pra mim?

     Hoje, compartilhei estes três fatos que fazem parte da língua falada. Há muitos outros. Outro dia ouvi “g’anpil”, de “gen” com “anpil”. No nosso idioma também há casos semelhantes. Dizemos “pra” em vez de “para a”. Dizemos “coa” em vez de “com a”. Essas contrações já não aparecem nos textos, mas são registradas pela língua culta! E, sem dúvida, continuam vivas na fala.

     Esse foi o artigo de hoje. Por favor, “conta co Blog pra te ajudar coa língua”. Compartilhe nos comentários as que você já ouviu! Até mais. Babay!

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