Dúvidas respondidas

Aula 1: Introdução ao crioulo haitiano: história, cultura, expressões fáticas

Pergunta: Essa ideia clássica, do ciclo de vida, parece bastante eurocêntrica, pois pressupõe a existência de "características crioulas" e que o fato de perdê-las, reaproximando-se da língua de origem, seria um fator que a tornaria "melhor" (pós-crioula). Podemos trabalhar sempre com o conceito sócio-histórico, para não reafirmar esses estereótipos?

Resposta: Sem dúvida é eurocêntrica. Nas palavras de DeGraff (2005), “apesar de sua base histórica no colonialismo e na escravidão, e apesar de suas falhas científicas e so-ciológicas, o Excepcionalismo dos Crioulos ainda prevalece [na] Linguística moderna e sua literatura clássica”. Este texto de DeGraff mostra que desde o início dos estudos de línguas crioulas, essas línguas foram tidas como exóticas, o que criou a cultura de sempre colocá-las à parte de línguas “não crioulas”. Sempre foram tratadas como sendo excepcionais (no sentido negativo da palavra). Os que defendem a existência de “características crioulas” nunca são claros em dizer quais são tais características. Quando apresentam algumas, são características que também se encontram em línguas “não crioulas”. Outros dizem que a essas línguas “faltam” algumas características, e é isso o que as define como crioulas. Ainda assim, se algo “falta” é necessário também explicar por que tal característica ausente deveria estar ali, o que não se faz. Por outro lado, quando olhamos para os fatos sócio-históricos temos a oportunidade de ver o que propiciou a formação dessas línguas, e se tratarmos as línguas crioulas como tratamos as línguas “não crioulas”, veremos que essas línguas em nada diferem em sua estrutura das demais línguas naturais.

Referência: DEGRAFF, Michel. Linguists’ most dangerous myth: The fallacy of Creole Exceptionalism. Language in Society, 2005.

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Pergunta: Olá, Bruno. Ouvindo você falar sobre o fato de o ensino no Haiti ainda ser feito muito em francês, fiquei pensando no seguinte: qual é a percepção dos próprios haitianos (ou mesmo do governo local) da importância de sua língua em relação ao francês? Existe uma valorização do crioulo, seja institucional ou por parte da população? Obrigado!

Resposta: Infelizmente, eu diria que ainda há pouquíssima valorização do crioulo por parte dos falantes. Por partes das instituições a situação é a mesma. O francês ainda é muito mais valorizado e carrega um status de prestígio que o crioulo não tem, ainda que o crioulo seja a única língua falada pela maioria. Há avanços recentes nessa questão, mas ainda há muito o que fazer. Hoje o crioulo haitiano tem uma Academia própria, por exemplo (Akademi Kreyòl Ayisyen – Academia do Crioulo Haitiano, como a Academia Brasileira de Letras, por exemplo). Recomendo muito que vocês vejam a conferência de DeGraff dada algumas semanas atrás, ele fala muito sobre isso e com muito mais propriedade do que eu poderia falar.

Referência: https://www.youtube.com/watch?v=-M91rn4Tr_Q&t=3s (conferência de Michel DeGraff)

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Pergunta: O que o senhor quis dizer por "transmissão anormal"? Pensei num trecho a respeito da difusão da língua geral pelo Brasil:

"Na verdade, apesar de sempre grande, o uso da língua geral foi mais intenso entre mulheres e crianças do que entre homens adultos. Nestes provavelmente haveria uma quantidade maior de bilíngues. (...) Elas só falavam tupi. Eles eram bilíngues. Os filhos homens teriam o tupi como língua materna, mas aprenderiam português com o pai e/ou com os jesuítas." (BEARZOTI FILHO, 2002)

Resposta: O termo “transmissão anormal” foi usado num texto clássico de Thomason e Kaufman (1988). Neste texto, eles definem que as línguas crioulas se formaram a partir de uma “transmissão anormal”. Alguns anos mais tarde, eles reconhecem que pecaram em dizer “anormal”. De fato, pecaram. Não há nada de anormal no processo de formação de uma língua crioula. Anormal era a situação da escravidão, não é mesmo? Bem, nesse mesmo texto os autores sugerem que o fato de as línguas crioulas terem sido formadas a partir de uma “transmissão anormal” quebra a relação genética dessas línguas com as línguas que participaram de sua formação. Assim, o crioulo haitiano não é visto pela corrente tradicional da linguística histórica como uma língua-filha do francês, e tampouco das línguas africanas que ali se falavam. Infelizmente, a questão do contato de línguas foi vista por muito tempo como algo “anormal”, e isso precisa ser mudado urgentemente! Já está sendo mudado, mas ainda há muito o que fazer. Para o português brasileiro, autores como Dante Lucchesi e Alan Baxter falam que o nosso português também passou por uma “transmissão linguística irregular” (nas palavras deles). Ainda que este seja um termo “melhor” (entre muitas aspas) do que “anormal”, essa ideia é bem contestável.

Referência: THOMASON, S. e KAUFMAN, T. 1988. Language Contact, Creolization, and Genetic Linguistics. Berkeley: University of California Press. xiii+411pp.

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Pergunta: Com respeito ao exemplo dado de um professor nativo, no qual dá aos alunos a opção que uma árvore é um ser que possui pés. Fiquei pensando seria esse devido ao idioma ou a habilidade ou conhecimento daquele professor? Digo isso devido ao fato de no português também dizemos pé de maçã, pé de manga... E nem por isso professores ensinam ou dão essa opção aos seus alunos. Não seria esse um caso isolado de um professor sem o conhecimento necessário?

Resposta: Para saber mais de toda a situação, que é comentada mais extensivamente no texto do qual o trecho foi retirado, sugiro que você leia o texto diretamente, se puder. O texto é muito bom e nos dá uma boa ideia dessa situação toda. Talvez um paralelo com o português nos ajude a refletir mais na situação. Em português é possível dizer “pé de ... (fruta)”. No inglês não é possível dizer “pé de... (fruta)”. Mas imagine que ao ensinar inglês, o professor traduza literalmente a expressão “pé de... (fruta)” e ensine aos alunos algo como “foot of... (fruit)”. Bem, ele estaria usando palavras do inglês, e elas estariam sendo encaixadas numa estrutura que é do português. Esta comparação talvez nos ajude a entender o cenário: o professor está ensinando numa língua estrangeira (para ele e para os alunos), em vez de ensinar na língua local, a língua materna, a língua que ambos dominam. Essas pessoas têm o direito de ser ensinadas em sua língua materna.

Referência: DEGRAFF, Michel. La langue maternelle comme fondement du savoir: L’initiative MIT-Haïti: vers une education en créole efficace et inclusive. Revue transatlantique d’études suisses, 2017.

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Pergunta: Na área descoberta e então chamada de Haiti , teria sido , mais tarde, a língua francesa um tipo de “ língua franca” para se fazer compreendida pelos escravos africanos?

Respostas: Antes, só um detalhe: na descoberta o Haiti não se chamava assim. O nome Haiti foi adotado a partir da Independência do país. Antes chamava-se Saint-Domingue (São Domingos). Fiz esse comentário só para esclarecer, porque pode ficar a impressão errada de que o nome Haiti foi adotado logo com a chegada dos europeus. O francês era a língua-alvo, e se fosse de fato "implantada" (falta de um termo melhor), seria a lingua franca, de fato. Mas, como vimos, isso não aconteceu. Os franceses, com a ideia de os africanos não aprenderiam o francês, passaram a adaptar seu modo de falar e isso levou para a direção de uma nova língua. Esta nova língua, como vimos, era usada até em comunicações oficiais de autoridades (ex.: carta de Napoleão Bonaparte que vimos em aula). O francês sempre se restringiu à elite do país, e permanece até hoje assim.

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Pergunta: Oi Bruno! Com respeito a origem do crioulo, ouvi de um haitiano que a mesma se deu pelo fato de os " haitianos tentarem enganar os franceses e d ocorreu a independência"...existe algum fundo de verdade? A aula foi excelente, muito obrigada... estou começando a amar o crioulo haitiano.

Resposta: Olha, não consigo saber com precisão a que fato da história estavam se referindo. Existe uma história popular de que o crioulo seria usado para que os franceses não os entendessem, mas esta história não condiz com o que de fato sabemos. Era justamente o contrário: o crioulo promovia a comunicação. Tanto é que vimos que havia cartas de autoridades (como Napoleão Bonaparte) escritas em crioulo.

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Pergunta: Quando você fala do empobrecimento do Haiti ignora o embargo econômico, que dificultou ao máximo a independência financeira do Haiti. Algo que foi repetido depois com Cuba e agora com a Venezuela. Países europeus sofreram com revoluções e disputas políticas e nem por isso se tornaram subdesenvolvidos, além de não terem sido sistematicamente ocupados por nações enstrangeiras. Mas agora uma dúvida de fato, é possível indicar quais linguas africanas influenciaram o criolo haitiano? Existe algum vestígio da língua dos nativos da ilha no novo idioma?

Resposta: Pois é, se fôssemos falar de tudo o que eu deixei de fora... A língua africana que mais influenciou a gramática do crioulo haitiano é o fon (fongbe). Infelizmente, desconheço traços das línguas originárias do atual Haiti no crioulo haitiano. Pelo que percebo, é muito escasso o trabalho sobre essa possível influência.

Aula 2: Aspectos fonético-fonológicos do crioulo haitiano

Erratum:

  • Na parte 1 desta aula, aos 52 minutos e 29 segundos, aparecem as transcrições [sou.lje] [sou.li.je] [sou.li.ɲe] em vez de [su.lje] [su.li.je] [su.li.ɲe], que são as transcrições corretas.

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Pergunta: Fiquei em dúvida sobre a pronúncia de algumas letras do alfabeto, porque no primeiro vídeo algumas letras são pronunciadas com a, "ba", "da", por exemplo. E no segundo "bê", "dê". As duas formas são aceitas? Obrigada!

Resposta: Acredito que você esteja falando dos vídeos complementares que eu mandei. Mas pode ser que eu mesmo tenha usado as duas formas durante a aula. Eu já li algo sobre o porquê de no vídeo musical terem usado “a”, “ba”, “da”... mas não me lembro onde li, e não achei para passar uma referência. Mas a questão mais importante é que neste vídeo eles escolheram apenas combinar os sons consonantais com a vogal [a] para padronizar e mostrar os sons que as letras representam, em vez de mostrar os “nomes das letras”. No outro vídeo temos os “nomes” das letras, aliás, muito próximos do alfabeto francês. Para exemplificar os sons consonantais, poderiam ter escolhido qualquer outra vogal, por exemplo “bi”, “bou”, “bò”. Espero ter conseguido esclarecer, mas não deixe de entrar em contato novamente se ainda for necessário.

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Pergunta: Boa noite professor, quando você deu como exemplo a palavra <timoun> você transcreveu como [tsimũn], aqui o <n> está servindo como diacrítico que marca a nasalização da vogal? Ainda temos que pronunciar como consoante final?

Resposta: Boa pergunta, talvez tivesse sido melhor nem ter colocado o til para não confundir vocês, por outro lado, eu não teria a chance de explicar a vocês essa questão interessante. Então, vamos lá! A resposta é: não, o <n> aí não é uma letra diacrítica, é apenas uma consoante nasal [n]. O que acontece é que as vogais [i] e [u] acabam se nasalizando quando precedem uma consoante nasal. Veja: as vogais <en an on> [ẽ ã õ] aparecem mesmo quando não existe uma consoante nasal, como em <san> [sã] ‘sangue’, <sen> [sẽ] ‘santo’, <son> [sõ] ‘som’. Estas são de fato vogais nasais. Já [ĩ] e [ũ] só aparecem se elas estiverem próximas a uma consoante nasal. Isso mostra que na verdade elas são nasalizadas pelo contexto (pelos sons vizinhos), “a nasalidade não é uma propriedade delas”.

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Pergunta: Então o [i] e o [u] SEMPRE serão nasais antes de consoante nasal? No caso da palavra <timoun> nós produzimos a vogal [u] nasalizada + mais a consoante nasal [n]?

Resposta: Sim. Há, sem dúvida, uma diferença no grau de nasalidade, uma análise acústica mostraria isso. Mas [i u] se nasalizam quando antecedem [m n ɲ].

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Pergunta: Entendi que o objetivo e como se comporta a letra N quando precedida da vogal a mas tenho ums dúvida em relação as palavra pèsonn e pèsòn, sempre encontrei a primeira como significando "ninguém", já a segunda já vi sendo usado para pessoa mas também para ninguém, como em algumas revistas em crioulo haitiano e no dicionario Vilsen. Seria isso por mudanças no idioma ou por ser ainda flutuante?

Resposta: "Ninguém" se diz "pèsonn". Já "pèsòn" é uma outra possibilidade para "pessoa", em vez de "moun". No entanto, "pèsòn" se usa em contextos muito particulares em que já se cristalizou alguma expressão, como por exemplo "premye pèsòn", para falar da "primeira pessoa" no sentido gramatical. Quando quiser dizer pessoa, diga "moun". "Pèsòn" vai aparecer raramente, ou pode aparecer na fala de algum haitiano que esteja "puxando" muito para o francês.

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Pergunta: Quando escrevemos um texto em português, e a palavra não cabe na linha, separamos a sílaba com um hífen e continuamos a palavra na linha seguinte. Pode-se fazer o mesmo no crioulo?

Resposta: Sim, desde que se respeite a divisão silábica.

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Pergunta: Professor, duas dúvidas, não sou da área das letras/linguística, mas sou falante do francês e estou amando o curso! Minha dúvida é, as palavras do crioulo tendem a ser oxítonas como ocorre no francês? E sobre o som do <r>, mesmo após vendo o vídeo extra, realmente é um som desafiador, mas posso fazê-lo como o <r> do francês mesmo, sendo aquele <r> mais "gutural", como na palavra "agréable" ou estaria fugindo demais do correto? Digo isso pois foi a associação mais rápida e lógica que pude associar.

Resposta: Sim, as palavras são oxítonas, todas. Aliás, acho que esqueci de mencionar esse detalhe tão importante. A sílaba mais forte sempre será a sílaba final. Olha, não sei exatamente qual é o "r" que você costuma produzir ao falar francês, e mesmo entre os franceses há alguma variação, mas se você está acostumado com esse "r francês", com certeza já está muito mais próximo do "r" do crioulo. Não acredito que será um grande empecilho para a comunicação com os haitianos.

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Pergunta: Olá, professor. Observando palavras como "zoyon", "zoranj" e "zanj" em relação ao francês, fiquei curioso de saber se essas palavras tem "z" no começo por conta de alguma preferência do crioulo em termos de preenchimento da sílaba (inserir algo no ataque, por exemplo) ou se é mesmo uma particularidade dessas palavras. Obrigado!

Resposta: Ótima observação. Esse [z] no começo de palavras nos dá a pista de que muitas dessas palavras vieram do plural francês. Como no francês há o que se chama liaison, o -s é lido com a vogal seguinte, aparecendo como [z], temos explicada a origem desse [z] no começo dessas palavras. Em português dizemos {meu-zamigos} "meus amigos". Uma pessoa que nos ouvisse (e não soubesse português) poderia ter a impressão de que a palavra amigos é zamigos. Acho que essa ilustração ajuda a visualizar o que aconteceu.

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Pergunta: Com respeito a afirmação "Em crioulo haitiano, a vogal [a] nunca é nasalizada quando aparece antes de consoantes nasais". Minha dúvida é sobre a pronúncia por exemplo do artigo lan ou nan. A pronúncia desses não é nasalizada?

Resposta: Em {lan} e {nan}, temos a vogal [ã]. É diferente ter a vogal [ã] que na ortografia é representada como <an>, em que o <n> é como se fosse o til (~) do português, e termos a vogal [a] que fica nasal e aparece como [ã] porque está em "contato" com uma consoante nasal. Isso é o que não temos em crioulo: não temos um [a] que fica nasal, temos apenas [a] e [ã], "um 'a' que é nasal'. Espero que tenha ajudado. Se não ajudei, volte a escrever e posso explicar em mais detalhes.

Aula 3: Aspectos da morfossintaxe do crioulo haitiano

Pergunta: Olá, professor! Como se relativizaria algo introduzido por preposição em crioulo haitiano? Por exemplo, como seria o sintagma "A história sobre a qual esse livro fala"? Obrigado!

Resposta: O sintagma que você pretende construir ficará: istwa liv sa a pale de li a (história livro DEM. ART.DEF fala de 3SG ART.DEF) [história [este livro fala dela] a].

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Pergunta: Foi dito que é possível fazer pergunta sem o uso do "Èske", teria alguma regra para usar assim?

Resposta: Se não houver a marcação com "èske" em perguntas de sim-ou-não, a interrogação deve ser indicada pela entoação de pergunta, como fazemos em português.

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Pergunta: Oi Bruno! Tudo bem ? Fiquei com uma dúvida sobre os artigos. Ficou claro para mim que algumas vezes o artigo não fica no mesmo lugar que estaria no português na frase . Porém minha dúvida é : toda vez que tem artigo em português deverá ter em crioulo também? Ou existe alguma situação que não será necessário o artigo ? Obrigada!

Resposta: Boa pergunta, mas não é tão fácil de responder. Muitas vezes sim, talvez na maioria. Só não me comprometeria dizendo que sempre. As línguas variam bastante no modo como empregam os artigos. Acho que o exemplo de usar o artigo definido antes de nome próprio em português, mas isso ser impossível em muitas outras línguas, ilustra um pouco disso. O fato é que sempre que for algo específico a que você estiver se referindo, deve-se usar o artigo. A falta do artigo deixa as coisas um pouco mais vagas, e favorece a interpretação do plural. Infelizmente, não é possível falar de todas as situações em que o português pede e o crioulo não (ou do contrário disso). Ainda faltam estudos sobre a utilização dos artigos no crioulo, e comparações com o português não existem.

Aula 4: Aspectos da sintaxe e da semântica verbal do crioulo haitiano

Pergunta: Professor, sobre as frases com duplo objeto, algo que fiquei curioso de saber é o seguinte: existe alguma diferença entre os dois objetos na hora de relativizar? Por exemplo, os seguintes sintagmas nominais: "Elèv pwofesè a te bay yon kado yo" e "Yon kado pwofesè a te bay elèv yo". Esses sintagmas estão corretos? Obrigado!

Resposta: "Yon kado pwofesè a te bay elèv yo" = "Um presente que a professora deu aos alunos...", está OK. Quanto ao primeiro sintagma que você sugeriu, a construção seria parecida à que vemos no "português não padrão", ficando "elèv pwofesè a te ba yo yon kado yo..." (os alunos a quem a professora deu um presente ~ os alunos que a professora deu um presente pra eles). Interessante, não é?! Fico aqui à disposição para mais esclarecimentos. Fiz uma glosa para representar bem esta construção, veja clicando aqui.

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Pergunta: Bom dia. No caso, você teria talvez uma lista dos verbos que o "ap" faz eles ficarem no futuro?

Resposta: Não tenho uma lista para passar. Mas posso dar outros verbos como exemplo. No entanto, antes eu gostaria de deixar claro que todo verbo tem que ser visto dentro de um contexto. Veja, por exemplo, o verbo ANDAR. Em "ele anda muitos metros em poucos minutos", o verbo ANDAR é um verbo dinâmico. Posso dizer "Ele está andando muito rápido!". Já em "ele anda triste", o verbo ANDAR não é mais dinâmico, é estativo. O ANDAR aí não é uma ação, como nos dois primeiros exemplos. Nem posso usar o gerúndio e dizer "*Ele está andando triste". Então, tudo tem que ser visto dentro do contexto. Alguns verbos que costumam ser classificados como estativos são: posede (possuir), kwè (crer), renmen (amar, gostar), rayi (odiar), remake (perceber, odiar), wè (ver), doute (duvidar), konprann (entender), depann (depender), vle (querer). O geral para verbos assim é que não exista a possibilidade do equivalente do gerúndio do português (particípio presente no crioulo), e o AP leva esses verbos para o futuro.

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Pergunta: Olá! Queria saber como ficaria a frase "eu estava aprendendo crioulo" na forma negativa. Seria "mwen pa t ap aprann kreyòl"? Também queria saber se na frase "Se pou nou kontan!", apenas o contexto nos ajudaria a identificar se é "nós" ou "vocês", ou haveria alguma mudança na expressão "Se pou"?

Resposta: Você construiu a frase corretamente, "mwen pa t ap aprann kreyòl". Sim, é o contexto que vai favorecer a interpretação de NOU como 'nós' ou 'vocês'.

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Pergunta: Professor, se eu quisesse formar uma frase com passado progressivo negativo os marcadores ficariam {pa t ap} por ex. mwen pa t ap aprann kreyòl?

Resposta: Exato!

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Pergunta: Oi Bruno! Creio que minha dúvida não tem a ver com o tópico em questão...mas e a pontuação no crioulo é igual ao português?...Também eu começo a frase com letra maiúscula? Obrigada

Resposta: Sim, essas convenções de pontuação são bem equivalentes à do português, talvez mais do que as convenções do francês. Emprega-se maiúscula em começo de frase sim. Boa pergunta, as línguas podem diferir no emprego de maiúsculas.

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Pergunta: Professor, no vídeo sobre artigos você tinha dado um exemplo com a palavra casa que era "kay yo", já no vídeo sobre se/ye você deu um exemplo com casa que era "li pa lakay li", esse {lakay} expressa o "em casa"?

Resposta: Ótima observação. Esta é uma das coisas de que não conseguimos falar nesse curso. Em crioulo há muitos casos de palavras que permaneceram com o que seria o artigo definido do francês. E em muitos casos, há uma dupla possibilidade como lakay ~ kay. Salvo em expressões fixas, em que talvez haja uma forma mais comum/fixada, não faz diferença a forma que preferir. Veja outros casos: laverite ~ verite (verdade), linivèsite ~ inivèsite (universidade), lagè ~ gè (guerra). Mas norte agora: lafwa (fé), fwa (fígado; vez); lapè (paz), pè (estar com medo). Então nem sempre dá, são algumas palavras que apresentam essas formas concorrentes. Lembrando que esse la ou esse l só é o artigo definido na história da palavra (etimologicamente/diacronicamente falando). Para acrescentar o artigo, devem ser seguidas as regras que aprendemos, ex.: lagè a (a guerra) ou gè a (a guerra).

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Pergunta: Na sentença: “Tenho um presente para você”. Como se traduz em crioulo? Minha dúvida é porque uma haitiana traduziu da seguinte forma: “Mwen genyen yon kado pou ou”. Na aula aprendemos que o beneficiário vem antes do tema. Gostaria de saber é sempre nesta ordem, ou há alguma exceção.

Resposta: Eu tenho um presente para você = Mwen gen yon kado pou ou. A tradução dela está corretíssima. Aí se trata do verbo GENYEN. O que vimos sobre a questão da ordem Beneficiário-Tema é sobre verbos que pedem duplo objeto e que pedem Beneficiário-Tema, não é o caso de GENYEN (ter, possuir). Mas aproveito para dizer uma coisa, mesmo se você tivesse feito uma frase com o verbo DAR e ela tivesse traduzido de maneira diferente da que eu ensinei, é preciso lembrar que os falantes não são especialistas em língua (na maioria dos casos), o que os limita quanto ao que eles podem ensinar sem formação específica. E também em linguística nós seguimos técnicas para consultar os falantes nativos. Quando essas técnicas não são seguidas, o resultado muitas vezes pode estar bem comprometido, de modo que alguém pode ensinar algo que ele mesmo não diz e que acha estranho. Foi boa a pergunta, assim tenho a oportunidade de trazer à atenção de vocês essa questão.


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